Pra Não Dizer Adeus e Nem Voltar...
Luciano Salerno
- I –
No andejar
das coplas ao vento
Quando
o verbo projeta as coisas da vida,
No espaço
livre para os sentimentos
O “Eu
interior” ressuscita dores escondidas.
Nunca
encerramos algo principiado
Porém,
restabelecemos um novo fim,
É momento
de recomeçar algo acabado
Mas com
força e de outra forma... Enfim!
Pra
não dizer adeus e nem voltar...
Sigo
teimando em manter as demoras.
Com o
medo de sair, andejar
- Sem
Rumo - e pela - Estrada Nova –
Não
degustar o aroma das estradas,
Percorrer
lonjuras, cansar ventanias
Para talvez
encontrar uma - Porteira Fechada -
Como
a de “Cyro Martins”** na trilogia.
- II –
Do
que me faz parte habitando a tessitura*,
O elemento
singular revelado na partida:
O
ornamento*dos sonhos na partitura*,
A
melodia do - meu tempo - assim protegida.
O
olhar mudo, a voz cega, decifram o essencial
No ponto
de aumento* que silencia a dor,
Quando
a música do dia revela o universal
Na luz
de uma clave* de sol do criador.
Pra
não voltar e nem dizer adeus...
No
pulso que pulsa firme a moderna pena
Demarcando
o inventário deixado aos meus,
No
muito do bem pouco de um poema.
Parafraseiam
minhas angústias e saliências...
Estas
escritas na coxilha de ferro e cimento,
Quando
as rudes linhas nas curtas reticências...
Carregam
tudo o que trago por dentro.
- III
–
Pra
não voltar... E nem dizer adeus,
Vem do
jardim perfumes a florescer.
Um
singelo e longo aceno de adeus...
Com
matizes timbrando o entardecer;
Receberei
então o dízimo da querência
Para
curar o tempo das dores e esperas;
No
“Sacrifício” constante a essência
Revelando
“liras de ventos” e quimeras.
E num
gesto largo sair mundo afora,
Cativa
de poesias e sentimentos
Abençoadas
serão as horas,
Libertando
as ânsias e tormentos.
Vou percorrendo
a coxilha empedrada
Com a
melodiosa canção infinda...
Desvendarei
indelével e sem amarras,
A razão mística do - Paralelo
Trinta -!
-IV-
Pra
não dizer adeus... E nem voltar,
O
arrebol compondo uma linha dourada.
Tenho
além dos pés cansados de andar...
Os sensíveis
rastros da estrada.
Pela distância
não avistarei o caminho,
E
sim, o porquê da luz a brilhar!
Por
certo entenderei quem anda sozinho,
A cada
pegada, para um novo rumo trilhar.
Na existência,
a alma gêmea se revela
Profetizando
nosso destino em orações!
Os
desejos a timbrar na íntima aquarela
O espelho
das retinas em cintilações!
A
alma aos céus enaltecida estará
Timbrando
no pergaminho a luz exibida,
E como
um livro aberto o poeta desvendará
- o
segredo das quatro letras - chamado... VIDA!
Glossário:
** Cyro Martins - Cyro
dos Santos Martins (Quaraí, 1908 — Porto Alegre, 1995) foi um grande escritor (autor da
trilogia do gaúcho a pé) e psicanalista brasileiro.
Tessitura - disposição
das notas para se acomodarem a uma determinada voz ou a um dado instrumento;
Ponto
de aumento - Um ponto colocado à direita de uma figura (notas musical) servindo
para aumentar a metade do valor da mesma.
Partitura
– material gráfico, contendo notações impressas ou manuscritas, que mostra
a totalidade das partes de uma composição musical.
Ornamento
(em Música) - Notas ou grupos de notas acrescentadas a uma melodia. Sua
finalidade é adornar as notas reais; Desenhos musicais que embelezam uma
melodia ou acorde.
Clave – Clave é um símbolo colocado no início de uma pauta
e serve para determinar o nome das notas e sua altura na escala.
Cifra
- número ou letra que representa um acorde.