OPÚSCULO
Luciano Salerno
Luzes
maduras pintam vultos no final da tropeada.
Vigiando
a estrada, o alerta do altaneiro sentinela.
O som
da barbela tilintando em contracanto ao do badalo.
A - Sina
Tropeira - como legado aos homens de estampa rude...
Que
tem os olhos cor de açude e a vida, no lombo do cavalo.
Cruzando
sesmarias, a tropa em tronar de cascos;
Pelos
verdes pastos, as coplas amadrinhando a solidão
Na intima
canção de arreios sonorizando o corredor.
Um
matiz bombeador no horizonte que a tarde ilumina,
Triste
a sina do gado tocado no estalo do arreador.
Ao
largo, casco e peçunha sovando o pó da estrada,
Lonjuras
sombreadas vão pelo tempo iluminado.
Ondulante,
ruflado, um pala abanando se perde pampa afora;
Nesta
hora é que o tropeiro tem a estrada por lida e sustento,
E, em
coplas ao vento se vai num frouxar de esporas.
Entre
coxilhas, costa de arroio para uma ronda;
O
pensamento por conta! É outro que sofre este andejar!
Num silente
chiar a cambona milongueia íntimas dores...
Duros
labores desses que, sustentando charqueadas,
Deixaram
“ajoujada” a alma pelos corredores.
De
manso, as estrelas deitam sob o poncho da noite.
Em
açoite às quimeras, as brasas com rubros lumes,
Imitam
vagalumes, costeando as sendas da escuridão...
Clareando
no chão, as marcas pela querência,
Longas
reminiscências dos cascos em procissão.
Desponta
o relógio do tempo, em fragmentos de ouro:
Enorme
tesouro adentrando na manhã serenada;
Acordando
a estrada e abençoando um novo dia;
É luz
e nostalgia pra tropa grande já encordoada;
Rumo a
sua última jornada: - marretada brutal e fria -!
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Revivo
a tropeada num - opúsculo -, que resguarda essas histórias:
Tristes
memórias desses retratos com marcas do fim de um ofício.
Por
certo, ficaram resquícios não somente num papel amarelado.
Não
morreu o passado; ainda há tropeiros no hoje que não se foi...
Ecoando
aboios de - ...êêêêra boi... – pelas estradas... Do meu
pago!