VISITA
Loresoni da Rosa Barbosa
Ontem, lembranças tuas
Vieram passear no meu rancho
Trazendo ânsias para o pouso,
Vieram também as estrelas
E a lua - terna parceira -
Que por conhecer meu
semblante,
Deixou de estar tão distante,
Pra contracenar co'as flores
Que representavam tristes
No palco da minha janela.
Abri rancho e coração,
Que são
quase tapera,
Enclausurados na espera
De alguém que lhes bata a
porta,
Pois mil fantasmas se
esgueiram
Na orfandade de min'alma,
Mil tropas imaginárias
Cruzam no vau dos meus
olhos...
Se vão!...
Como loucas nuvens
Ludibriando os açudes
Sedentos pelo seu choro;
E aqui no regaço onde me
encontro
Ninguém pára pro descanso,
Ninguém vem saciar a sede
E os retratos na parede
Sorriem para o meu pranto.
Mas teus poemas chegaram,
Ouviram os meus lamentos
E viram dor no meu silêncio,
Uma dor que inibe a prece;
-Pra que falar quem padece
Tendo seus olhos quebrados.-
Os sonhos vão acordando
Conforme o tempo se esgarça,
E os desenganos e as guascas
Vão se finando em saudade,
Quando o medo de ter medo
Encilha o vento - covarde -
E vem nos finais de tarde
Para roubar meus segredos,
-Tudo que tenho -
Poeta do entardecer,
Que envolve em odes
ressabios,
Se pudesse com tua pena
Reescrever-me em poemas!...
Decerto por bom artista,
Transmutarias meus feitos,
Habitarias meu rancho
E essa tua alma de poço
Que ainda tem água, e
muita...
Afogaria minhas mágoas
Enxaguaria meus olhos
E abençoaria meu canto.
Ou quem sabe, - só por
deboche -
Dirias que fui do mundo
Com glórias de bom ginete,
Que tive amigos e
"suerte"
Pra o truco e para os
cambichos,
Que me agradavam bolichos
E domingos de carreira,
Quando as botas garroneiras
me carregavam pras vilas,
Onde escasseavam meus pilas
Sobre os ponchos desbotados,
Que andei gastando esperança
Por que sobrava confiança
Nas patas de um bom cavalo...
Que pena! Amigo poeta,
Que tua pena é de aço
E só ameniza o cansaço
Dos personagens que crias.
Hoje, eu esmolo os teus
versos,
Aquém do frio das calçadas
E sinto em cada palavra
Que tens grande o coração;
Pois eu, que gastei esporas
E potros e cordas cruas,
Ando campeando ternuras
Pois aprendi tua canção.
As lembranças vão minguando
Porque a aurora atropela,
A saudade mete a cara
E esbarra na minha cancela,
Traz mais um verso na mala
E um sol de maio atrás dela.
Se um dia encontrares versos
Mais belos que são os teus,
Olha pra o céu, agradeça...
É o pai mandando lembranças,
Escritas com penas brandas
Num telegrama celeste,
Timbrado co'a
a mão de Deus.