No
final de um corredor,
o
derradeiro cerro vigia,
sombreia
as tardes de inverno,
que
além de ocas e frias
fazem
da estância melancolia
mais
triste, amarga e só.
No
rancho!...
Ausência,
espera e silêncio,
amadrinham
os sonhos
de
quem viveu tantos anos
fazendo
planos, filhos, amigos,
mangueiras
fortes de angico
para
lidar com a eguada...
Alambrados
de seis fios
para
abraçar sesmarias
e
dividir invernadas.
Um
galpão que ainda existe
e
apesar dos ventos resiste,
como
se ali fora plantado.
Agora,
são os recuerdos que falam,
contando
histórias de outrora,
resumidas
em auroras,
que
silenciosas lhe dizem tanto.
As
botas de garrão ressequidas pelos verões,
as
nazarenas alí no oitão penduradas,
e,
palmeando o porongo à beira do fogo de chão,
o
velho taura se para e fica a admirá-las.
Quando
andavam irmanadas,
esporas
e botas de garrão,
parecia
que a potrada pressentia judiação,
mas
o índio era dos guapos,
não
le gustava covardia.
Se
houvesse um venta rasgada,
aporreado
sem serventia...
Ah!...
Este sim lhe servia,
e
se não prestasse para suas garras
ficava
pra tirar cria.
Que
lindo era vê-lo ginetear
em
puro pelo, na basto,
depois
que se enforquilhava
mui
tarimbeiro e valente,
de
longe se ouvia o estalo
do
rebenque do ginete,
esporeava
onde alcançasse
e
batia firme cruzado,
largava
o pobre baio
redemoinhando
lá adiante.
Entre
coxilhas e canhadas cálidas,
ainda
existe uma estrada
que
se afunila no infinito,
onde
o velho moço solito,
fica
horas e horas a contemplar visões,
de
um lado o horizonte,
que
ele chamava de promissor,
do
outro... o sonho... nascido, criado
e
realizado por um lavrador.
Anseios
e saudades, se entreveram
com
a decoração simples daquele rancho pobre,
crivado
de solidão e picumã,
mas
que se mantém
firme
como um forte
e
com as portas escancaradas para o nascente,
à
espera do último combate.
O
velho tirador empastado de sangue, suor e sebo,
por
certo guarda um segredo,
do
xirú que alí está,
remoendo
recuerdos como querendo voltar
às
lides de antigamente,
que
o minuano... levou prá longe...
bem
longe dos olhos da gente.
Já
faz tempo enxerga pouco,
mal
ve os ponteiros do relógio de bolso
que
mais lhe mostram lembranças,
do
que horas e dias.
O
taura já não precisa mais de olhos,
nem
horários, nem datas, nada,
prá
ver uma tropa na estrada,
prá
ouvir o grito dos tropeiros,
o
mugido da boiada,
e
sentir a brisa do vento brando,
refrescando
o calor do sol,
que
até parece um castiçal,
nos
domingos e natais.
Mas
a vida...
Ainda
lhe quer mais um tempo,
mesmo
tendo tão pouco para lhe ofertar,
também,
já lhe dera tanto,
tropas
para tropear,
arames
e palanques para almbrar,
tropilhas
para domar e enfrenar,
junta
de bois mansos,
um
ardao e terras para plantar,
uma
china linda que lhe deu filhos
que
deram netos e bisnetos.
Hoje,
pealado pelos anos,
maneado
pelos calosde suas màos trêmulas,
lhe
resta ainda coragem, um naco de fumo,
e
alguns quilos de erva mate.
...
no semblante castigado pela invernia,
a
estampa rude... sofrida,
e
nos olhos... saudades...
apenas...
saudades da vida...