Quem Deixa a Alma Tapera Não Distância a Saudade

Loresoni Barbosa


Poeira no corredor ,

Ensimesmadas coplas ao vento,

Anseios no semblante estradeiro

E uma tropilha de sonhos

Manoteando os pensamentos.

São assim, quando se vão

Os campeiros desatinados,

Deixando o rumo das casas

Em busca d´outros valores.

 

Os olhares cobiçosos

Desses moços da campanha

Vão engolindo as estradas,

Cambiando o calor da estância

Pela ilusão das calçadas.

Campos, prados e grotas

Ficam no rastro das botas

E no olhar dos retirantes

Que rasgam os horizontes

Em busca de melhor sorte.

 

Vão-se os campeiros,

Degustando a poeira dos corredores!

Ficam as taperas,

Abrigando a alma dos campeadores!

 

Enfim, a cidade

E os olhos pasmos saltam das faces

Numa expressão de surpresa

- Que emudece e assusta -

São léguas e léguas de metrópoles,

São retesados e frios

Os que compõem esta paisagem insólita.

 

La maula! ... no campo, a lida era bruta,

Pincelada de chuvas, frios e mormaços,

Mas temperaram feito aço

Ginetes, tropeiros, guasqueiros e esquiladores.

Que pena! A ferrugem do passar dos anos

Foi corroendo a memória

E a altivez desses tauras ...

 

Hoje, as mesmas pernas

Que tremularam nos potros

Entre alvoroços e domas

E os mesmos braços que ampararam laços

E vestiram velos pra iludir tesouras

São aliados a insensatez

De desmembrar as estradas.

 

Ah! Campeiros, por que fraquejaram?

Por que não ficaram sonhando

Com este mundo de muros, mas longe dos rumos

Que os levaram e embretaram

Entre os luzeiros comprados

E a escuridão das favelas.

 

São confusos os horários da cidade,

São furiosos os trens desta metrópole.

E até parece o boitatá raivoso

Rasgando a cidade em quatro,

Engolindo homens nas tocas

Cuspindo outros no rastro.

Ora entranhados na terra,

Ora varando viadutos.

 

E os campeiros?

Onde estarão os campeiros?

Os que outrora repontaram sonhos,

Hoje, repontam saudades,

Fazendo da vida, duras vigas,

Dependurados no pico

De algum abismo aprumado,

Fitando ao longe, abismados

As tropas tão alinhadas

No invernadão de concreto.

De dia constroem prédios ...

A noite escoram barracos.

 

Eis o perfil desses campeiros atuais:

Pealando sonhos sem patas,

Laçando esperanças mochas,

Embuçalando a realidade troncha e amarga,

A campear pelos campos asfaltados

Rastros das almas gavionas.

 

- Que almas, senhores?

Se elas de há muito ficaram

Campeando sonhos alçados

Pelas taperas caladas...

- De que valem estas noites de luzeiro

Se o amanhecer é uma cambona tisnada...

- Quando clarearem seus olhos

Tomem por rumo a boieira,

 Degustem no más a poeira

Repontando seus sonhos pobres.

Deixem tapera os barracos

E voltem pro´s seus valores!

Aqui tem cheiro de pasto,

Tropilhas pedindo basto

E pouso pros campeadores.