O VISIONÁRIO E SEU DEUS
Loresone
Barbosa
Desprovido de vaidades
com a alma impregnada
de bondade e de clemência,
saí pra ver a querência
que regalastes pra mim.
Custei achar minhas preces
que mal aprendi nas rondas
e em horas de solidão,
buscando vosso perdão
- esmola que não tem fim.
Trouxe o silêncio das noites
para a quietude do abraço,
pois conheceis os meus medos,
adotastes meus segredos,
e aliviastes meu cansaço.
Meus fardos não foram leves
nem suaves foram os calos,
mas o vosso amor maior
pras rédeas que me fez doutor
e eu amansei meus cavalos.
Semeei sonhos nas coivaras
plantei rancho e fiz mangueira,
só o coração me reclama
meio tristonho sem dona
num peito quase tapera.
Eu sinto inveja da aurora,
- perdoai meu sentimento -
quando os pássaros cantores
encantam os seus amores
num recital para o vento.
Esse vento é que me entende
e responde a sinfonia,
soprando a dança das cores
que adoçam os beija-flores
e inspiram nova poesia.
Já sou quase um visionário
encantado com teu mundo,
que recrias num segundo
quando a gente se distrai,
e a lua que se vai
a desfrutar madrugadas
é o fruto esperando geadas
para adoçar novo amor,
é o potro e o domador
jogando a mesma parada.
Ah, Senhor...
Vós que regeis o pampa
que de tudo bem sabeis,
como eu queria entender
o porque das sesmarias,
da fome, das noites frias,
da estrada que não termina
pros irmãos que tem na sina
só esperança pra dar,
um hino a desencantar
e um sol que pouco ilumina.
Senhor de poucos assuntos
trazeis-vos amor de sobra
pesando no coração,
olhai teu povo pagão
a desnortear as estradas,
e talvez pro meu peito
que desusado enlouquece,
pois nem em sonho aparece
quem me habita o pensamento