já
não dou graças a Deus,
maldigo
as nuvens covardes
que
vem no final das tardes
sombrear
meus sonhos ateus.
A
seca inundou meus olhos
ancorou
a solidão,
e o
sal que seca no rosto
não
dá pra encher o cocho
que
alheio enfeita o verão.
Troquei
as contas da talha
pelas
contas do rosário,
parece
que nada adianta
pois
quando o sol se levanta
trás
lanças dentro dos olhos.
Arrendei
os pensamentos
de
incandescer madrugadas,
pois
não me adiantam
lembranças,
se
o braseiro anda de luta
cambonas
ficam caladas!...
Até
alguns vícios miúdos
que
ousavam me carregar
deixaram
da minha carcaça,
o
fumo, a erva a cachaça,
são
luxos que aqui no pago
só
tem quem pode pagar.
Sim,
impassível à miséria
se
a estiagem se alonga,
invade
o corpo e a alma,
simpatiza
com a loucura,
não
manda notícias boas,
nem
paga conta na venda.
Há
um sol a secar o pranto
e
salgar minha solidão,
e
uma saudade eloqüente
judiando
um sonho inocente
charqueando
meu coração.
Me
retiro a orfandade
que
assola até meu cavalo,
pois
nossa mãe natureza
nos
serve o cocho e a mesa
com
a seiva da tristeza
e
um vazio destemperado.
Ah!...
Senhor Deus, meu Pastor!
Decerto o povo do sul,
igual
ao irmão do norte
dividem
a mesma sorte
nos
terços e ladainhas.
Mas
temos tão pouca fé
-
para Vosso entendimento
que
às vezes penso que o vento
-
por não saber de rosários
me
rouba preces e hinários
destoando
canções que invento.
Senhor
dos céus e dos campos
pastor
de meus ancestrais,
arrebanhai
estas nuvens
para
inundar os açudes,
e
saciar meus baguais.
Pois
me parecem insanas
estas
nuvens desgarradas
que
escravizaram meus olhos
e
esvaziaram os sonhos,
pintando
ausências no céu.
Eterno
pintor da vida!
Tendes
poder de perdão.
Abri
vosso coração
agitai
a ventania
recolhei
tuas preces de volta
devolvei
minha alegria,
pois
tenho a alma de luto,
e a
fartura que me sobra
é a
prole amparando sonhos
e a
tulha quase vazia.