ELEGIA
À PÁTRIA AMADA
Loresoni Barbosa
Sombreando
a beira da estrada
passam
os filhos bastardos
que
a pátria mãe esqueceu,
buscam
a parte que cabe
a
cada cristão que vive
a
semear no que não é seu.
São
rudes homens no arado
mas
por dentro mutilados
com
vergas no coração,
pleiteando
chão para enxada
que
descansada faz covas
nos
duros ombros do peão.
É
sol que arde na cara
ressecando
os sonhos pobres
desses
eternos andejos,
é a
chuva fria e calma
varando
os forros da alma
que
já tem tantos remendos.
Quando
a noite abriga os sonhos
dos
afilhados da sorte
nessas
favelas rurais,
a
Deus confiam suas preces,
pois
logo o dia amanhece
e a
estrada não se desfaz.
Num
frágil rancho de lona,
o
vento passa enticando
co’a
chama da lamparina
que
se ladeia faceira,
e
atrás da rala cortina
uma
doce lágrima rola
quando
a parteira apara
mais
um rebento pra vida.
É
pena que outras bandeiras,
venham
buscar nas vielas
votos
sem terra e sem nome.
a
inocência trai os pobres,
que
empossam bandeiras nobres
empunhadas
por algozes
que
trocam trapos por ternos
e
viram os pratos da fome.
Quem
sabe n’outro poema
não
mais veremos as cenas
que
decompõem tristes versos
nesse
louco amor transitório,
onde
ambos vivem juntos,
a
terra terna desnuda
sempre
a esperar a muda
do
beirador de alambrados.
Quando
a poeira se levanta,
turvando
as lágrimas puras
que
regem as esperanças
dos
moradores da estrada,
crianças
pôem-se a cantar,
tentando
ensinar pra gente
que
a terra no cio é a amante
que
o semeador quer amar.
Mas
as canções não tem asas
como
as calhandras cantoras,
ecoam
pelas lavouras
mas
morrem pelas calçadas.
São
como a flor distraída
que
nasceu linda pra vida
mas
sufocou-se co’as nuvens
sem
perfumar alvoradas.
Salve
esses homens da estrada,
soldados
sem farda
margeando
o asfalto,
cruzando
o Brasil,
cantando
a pátria adorada
que
não dá morada
a
quem passa co’arado
a
enxada e o canzil.
Pois
é tempo de semeadura,
de
terra nua, esperança
do
peão que nunca se cansa
esperando
o solo e o grão.
Menos
mal que Deus habita
pelas
minguadas marmitas
desses
humildes artistas
que
pintam sonhos no chão...