Pela
fresta da janela
onde
te via passar,
transpassa
hoje a saudade
que
sempre acha teu rosto,
mesmo
eu teimando
e
querendo não te encontrar.
Relembro
então teus abraços,
teus
lábios doces de amar,
teu
sorriso e aquele jeito
de
achar o caminho certo
e
ter na vida um lugar.
Assim
de vi passar
Pássaro
livre no espaço
com
armadilhas no olhar.
Sob
a quincha de um sombreio negro
morada
avulsa de quem bate estribos,
um
par de olhos “franqueiros”
-
da
cor da pampa estendida –
refletiam
ânsias de bagual teimoso
querendo
esconder o toso
de
quem já esporeou a vida.
-
Não
que tivesse amansado –
com
ela só se acostuma.
Mas
quando as garras e as esporas
-
ferramenta
de índio taura –
escoravam
tua alma inquieta
no
lombo de um mal domado,
o
pago inteiro te reverenciava
pois
era forte o santo que habitava
sob
o céu da copa do teu mal tapeado.
Sim
trazias o endosso da pampa
“nas
de garrão” “tira cisma”,
-
benzidas
com a graxa e cinza –
pra
maldizer tempo feio,
e a
força dos temporais
bem
atada nos bocais
pra
sofrenar teus anseios.
-
E
eram tantos nesse tempo –
tempo
todo primavera,
enquadrando
na janela
os
malinos que encilhavas
pra
topar “co” a ventania,
e
cada golpe no espaço
retemperava
teu braço
qual
aço em franca sangria.
Foi
nesse tempo que teus olhos puros
vestiram
afagos dos meus olhos moços
eu
soube então de todos os abraços
que,
mesmo breves, foram meu futuro,
-
paixão
do mundo que habitou em mim
coração
partido bem antes do fim –
Havia
imparcialidade
no
tom espesso da tua voz serena
que
garantiram o meu bem querer,
nem
o tempo nem a vida inteira
te
farão ausente da minha aquarela,
nem
dirão que sonhos eu devo viver.
Por
ti meus olhos fecharam,
minha
voz sussurrou,
o
corpo inteiro tremeu,
-
mas,
abreviaram minha alegria,
distanciaram-me
da estrela guia,
minhas
noites já viraram dia
e o
meu sol ainda não apareceu...
A
moldura da janela
saudosa
de primaveras
ainda
espera um retrato teu,
teus
olhos verdes loucos de desejo,
a
esmolar os beijos que já não são meus,
depois
do mar de estribo
um
até breve no gesto,
tirando
a sombra do rosto
sem
mais delongas, partias,
e o
riso acima do ombro
eternizava
esse quadro
pra
encher minhas tardes vazias.
embriagada
de infinita ausência,
aos
olhos dessa tela – que me foi parceira –
sou
a primeira e a última na dor,
mas
aos olhos desse eterno amor
dôo-me
toda, saudade, silêncio, espera...
Assim
eu te vi passar
Pássaro livre no espaço.