DEPOIS DOS CAMPOS TALVEZ

                                                                                         

                                                                      Loresoni Barbosa                              

 


Um raio coiceou no espaço

retumbando na madrugada muda.

Ficaram rastros e pêlos

bordando o chão da mangueira,

e maçarocas de clinas

vestindo a nudez das tronqueiras.

 

Gastei léguas de campo

sob as patas do meu zaino,

perdi os rastros, os pêlos,

perdi meus baguais pro tempo.

Malino tempo sem pressa

que me fez tropear sinuelos

na insistência da busca.

 

Irmanei-me com o vento

pra vagar pelas distâncias

rastreando rumos perdidos

nos confins dos corredores,

onde não patearam potros

somente o vazio da ausência.

   

Cansei do tranco do zaino

estradeiro moldado ao vento,

vou encurtar as rédeas

desse anseio que me arrasta

e, me faz longe do pago

quase um escravo dessas estradas,

que deixam sulcos e dores

no corpo e na mente insana.

   

O telurismo me ampara

nessa distância da estância,

remôo minhas próprias ganas

quando a saudade dispara

e, vai buscar noutras paragens

alento pra solidão, que embuçala o coração

palanqueia e senta as garras.

 

Preciso encontrar a paz

p'ra alma inquieta que trago,

preciso encontrar um par

p'ro coração que reclama,

adelgaçado e sem dona

no relento do meu peito.

 

Renasço no entardecer

solito mascando ausência,

recostado no silêncio

das lentas horas mateadeiras,

relembro domas e apartes

sorvendo goles de vida

pra amenizar as feridas

deixadas pela saudade.

 

Por onde andarão meus potros?

Que tinham no seu regaço

todo verdor das campinas,

matizando as xucras retinas

campeadoras de horizontes.

 

Sinto-me um resto de vida

repontando os cabrestos nus.

Vejo-me na paisagem de outrora

perdendo potros p'ro tempo,

e na paisagem que me espera

apartando estrelas no céu

cavalgando em brancos velos

que se farão o meu chão.

 

Não mais sonharei aqui

não mais sentirei saudade,

serei saudade sonhada!

Pois estarei com as nuvens

vagando por outros mundos,

bombeando os potros eternos

que, se alçaram das mangueiras

dos campos e cordilheiras,

pra retoçar nas coxilhas

do sem fim desses mistérios.

  

Por certo, verei meus baguais

pastando a paz do firmamento,

a distância se alargará

e a querência será só pensamento

terei a lua e o sol

para alumbrar meus caminhos,

e o capim lourando ao vento

há de deixar o meu rastro,

p'ros que forem depois de mim.