Um Perdão aos de Alma Pobre
Lauro Teodoro
A Sombra caminha pelas
encostas
Onde nasceram os andarengos
Sobre o couro dos bois da
carreta
Sobre o suor dos cavalos do
arreio
E sobre a alma pobre dos
homens
Coração de madeira, olhar de
pedra.
O céu precisa estar limpo
Pra sombra andar a sua
frente,
Alguns remendos no peito,
Volta-e-meia vasa a trincheira.
como sangue voando as veias.
A voz dos
que fazem do silêncio
A garganta dos pobres de
alma,
Palas bocas famintas de pão,
Roem a dor da fome,
Nacos de esperança em vão.
Há neste mundo os que
nasceram
Pra nunca ser ninguém, e
nunca chegar
As vezes campeiros ou peão de tropa
Por refugo da lida brava.
Mão
desarmadas de luz e luta,
Timbram em si, lá no galpão
Mal vestidos e pouca
inspiração
O vosso suor, engordaram os bois,
Que virou ouro do patrão,
O
vosso suor colheram as espigas
Que embandeiraram as fartas
Burras das velhas estâncias
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“ – POBRES DE BENS E ESPÍRITO VOS CHAMAM
OS PODEROSOS SEMPODER
NENHUM...
MAS HÁ UM REINO QUE É VOSSO E
VOS ESPERA
NUMA TERRA QUE HERDAREIS, POR NADA TERDES,
SENÃO, AS CARNES QUE VETEM
VOSSOS OSSOS
E ESSA ESPERANÇA QUE VOS MATA
A FOME...
- A VÓS PERTENCE ESSA
ESTÂNCIA
DE LÉGUAS DE SESMARIA.
A BRAÇO ALGUM HÁ DE FALTAR SERVIÇO,
NEM HAVERÁ PATRÃO PARA
COBRAR-VOS
O OURO DE VOSSO SUOR COM QUE
SEUS BOIS ENGORDAM,
A FORÇA DE VOSSAS MÃOS A
EMBANDEIRAR ESPIGAS.
- SEM QUE O POSSAIS ENTENDER,
SOIS VENTUROSOS
E PORQUE A MANSITUDE E A
HUMILDADE VOS REVESTE,
HERDAREIS OUTROS BENS QUE NÃO
AQUELES
QUE VEDES NAS MÃOS DE GARRA,
DA USURA...
- VOSSA FOME DE IGUALDADE E
DE JUSTIÇA
SERÁ SACIADA, COMO A DO FAMINTO
QUE ENCONTRA À MESA POSTA,
VINHO E PÃO...
E POR MISERICORDIOSOS, FLUI
DE VÓS
A ÁGUA LIMPA DA FELICIDADE
QUE VOS DARÁ MESERICÓRDIA POR
BEBER.
POR PUROS DE CORAÇÃO VEREIS A DEUS
E SEREIS
CHAMADOS SEUS FILHOS,
MEUS IRMÃOS
!...
- PORQUE A PREGAÇÃO DA PAZ É
VOSSO CANTO,
VOSSA CORDEONA DE ESPANTAR
PESARES
PARA REUNIR IRMÃOS
E PORQUE VOS PERSEGUE A
INJUSTIÇA DA JUSTIÇA,
HAVEREIS DE REGUER UM DIA
VOSSO RANCHO
NO SÍTIO QUE ESCOLHEREIS
ESSA, QUE O PAI DESTINOU AOS OFENDIDOS,
AOS CALUNIADOS POR ME
ACREDITAREM
E OUVIREM MINHA VOZ, COM A UM
CINCERRO
TIMBRANDO BRONZES PELA
MADRUGADA...
- IMAGINAI OS RINCÕES ONDE IREIS ESTANCIAR:
TREVAIS E SOMBRAS, SANGA
CANTADEIRA,
LEITE DE APOJO, PÃO DE FORNO
E MATE
BORDÕES DE BRISA A SALMODIAR
TOADAS,
DESSAS QUE FALAM DE TERNURA E
PAZ !...
- HÁ DE SER ESSA AVOSSA RECOMPENSA,
A VÓS, DESPIONADOS DA FORTUNA
QUE NADA TENDES MAIS QUE
VOSSO CORPO.
MAS SOIS, SEM QUE O SABAIS, O
SAL DA TERRA,
A LUZ DO MUNDO NA CHAMADOS CANDIEIROS
A ILUMINAR O CAMINHO, PORQUE VINDES
A ESCUTAR MINHA PALAVRA,
TIMBRE E ECO
DO VERBO DE MEU PAI, DE QUE
SOIS RAMA !...
- E NÃO VOS PREOCUPEIS COM
VOSSAS PENAS,
NEM COM VOSSO EXTERIOR, QUE
APENAS VALE
O QUE LEVAIS NO ÍNTIMO E POR DENTRO !...
- ASSIM, VOS VÊ MEU PAI E HÁ
DE PROVER-VOS
E AMAR-VOS TANTO COMO A MIM,
- SEU FILHO,-
FEITO A
VOSSA FIGURA E VOSSO IRMÃO...”
Foi denunciado, foi preso.
Motivo : Subversão...
Do campo para a cidade
Seu rancho novo
: A prisão...
Um perigo à Segurança
Pregando a reforma agrária
Numa terra de abastanças...
- Quem é teu chefe, onde
mora,
Quem financia teus planos?
Quem te mente nestes panos
Como um peão viramundo???
“ – TENHO PAI, NÃO TENHO
CHEFE,
E ELE NÃO É DESTE MUNDO... “
- E ainda se faz de louco !!! –
À bofetada na face,
Sorriu com dentes de sangue
E outra face ofertou-lhes
Aos partos da violência.
Queimam brasas de cigarro
Seu corpo de penitências...
- Este é dos duros, não fala !
E então, cuspiram-lhe a cara !...
Como um borrego carneado
Foi suspenso como um trapo
Nas traves de, um PAU-DE-ARARA !...