OFÍCIO DE MULHER
Lauro Teodoro
Sobre a luz das lamparinas,
a cama rude no galpão.
Sobre o calor de algum fogão,
na maior simplicidade,
os pelêgos foram maternidade.
Sem dor, e sem cirurgia,
o ventre da mãe, se rompia,
num ato de liberdade...
Depois que a criança nascia,
não tinha nem um perigo.
Quando cortavam o umbigo,
rompia a única raiz.
A mãe gemia feliz,
a parteira usava a tesoura,
como se fosse doutora,
pra deixar uma cicatriz...
Logo se ouvia os choros,
mais um vivente nascia.
A vizinhança toda corria,
uma cegonha tinha chegado.
O pai ficava meio assustado,
e sem poder ajudar,
no galpão ficava a pensar:
o nome, padrinho e batizado.
Primor ofício dos campeiros,
que trouxe muitos ao mundo.
A profissão do amor profundo,
veio o peão, patrão e doutor,
na pujança do criador.
Todos da mesma maneira,
puxados pelas mãos da parteira,
a mãe velha, num ofício de amor!...
(Poema dedicado a memória da minha madrinha e parteira
“Noca”)