OFICIOS DOS GURIS CAMPESINOS
Lauro Teodoro
Viviam enforquilhados na sobrecilha,
dos matungos velhos no
corredor,
na tala do reio o pretume do
suor,
das batidas nas ancas e do arreio.
A poeira da estrada na caimbra do freio,
Os sinais do caminho para o
povo,
ofícios que resistiu o tempo novo,
de entregar leite e vidas campeio
Logo que o sol despontava,
de bombachas remendadas,
recorrendo as invernadas.
do orvalho fazendo estampa,
tirando o leite na
guampa,
litros cheios, mala pronta.
nas lidas de faz de conta,
na feição o sabor do pampa.
Depois de uma légua de
estrada,
sovando o lombo do baio sonador.
A passos largos no corredor,
cedito no povo chegava,
senão o leite
esquentava,
em dias de chuva, sol ou poeira,
pensando pela estrada inteira,
em ser o que o pai ensinava.
Quando chegava na cidade,
o baio já sabia o caminho.
De baixo do pelegão, o leite.
Um oh de casa! - Antes da
troca,
uma prosa... num sorriso ligeiro,
depois como o vento se some,
nunca atendeu por algum
nome,
apenas um piazito, - “leiteiro”.
O vai e vem daquele piazito,
naqueles tempos um bom ofício;
um orgulho, um compromisso,
para cidade aponta sua ansia.
Sovando a tal petulância,
o lombo duro do cavalo;
assoviando tirando o talo,
nas léguas de sua infância .
Voltavam da partilha do dia,
como os pássaros ao ninho.
Até as corujas do caminho,
conheciam aquele inocente.
Assoleado, cantando contente
galopando sonhos e asas,
pois quando voltava pra casa,
refazia as seivas da vertente!
Ninguém esperava que um dia,
o progresso pudesse chegar,
Para um nobre ofício acabar.
Foi uma vida, foi destino,
sonhos de piá campesino,
que a o máquina atropelou,
o leite que o guri entregou,
era oficio daquele menino.
Tempo vai a vida fica pra
traz,
Agora sujeito grande e orelhano
vivendo as changas ano por ano.
O baio na carroça sentindo a dor!
Daquele romance do
entregador,
que foi o “ leiteiro” da avenida,
só quem conheceu essa árdua lida,
é capaz de dar-lhe o
valor!