ÚLTIMO RASTRO
Lauro Antônio Corrêa Simões
Um corredor, ou brete como chamam
ia engolindo léguas e mais léguas.
Obedecia as
leis da sesmaria
por entre cercas de pedra e aramado
e serpenteava ao longe, na distância,
num caminhar sem fim, por entre estâncias.
Num palmilhar de traços,
desenhados.
Nas sangas rasas, sem voz as
correntezas.
em suas margens, as marcas de mil cascos.
Nessa paragem, o rei era o
minuano!
Nesse lugar, o pó, a
divindade!
No seio estreito, os talhos já
exangues
de aços andantes, ávidos de sangue
buscando sempre o rumo da cidade.
Atrás o horizonte, relinchos
de manadas.
Beira da sanga, a égua “pare”
o potro!
Baguais em festa, farejam
brisas mansas
entre queixumes de vastos pajonais.
A voz da estrada não chega
aos cafundós
e ali as prosas que a gente escuta só,
é a brisa e a festa alegre dos baguais!
Porém o homem um dia não
contente
pegou o aço e foi ao horizonte.
Rompeu o pampa na construção
de trilhas!
Degolou rios e os fez de
sangas rasas!
E os retouços,
ao fim, foram mermando
quando os baguais, o homem foi usando
para um medonho
repasto, na sua casa.
Ontem chamado de seu melhor
amigo!
Hoje um relincho, quem sabe o
que nos diz!
Hoje as andanças, são causos
tão antigos.
Hoje as tropeadas tornaram-se
lembranças.
As madrinheiras,
cincerros badalando,
um tempo gasto nos deixam recordando.
Largos repontes de história e
esperança.
Tropéis saudosos de potros e
destinos
e o corredor, ou brete como
chamam
ouve tristonho os fatos que acontecem.
No seu silêncio soturno,
escuta a briga
de domadores a pé, pelas estradas,
pois a distância, cresceu para as volteadas,
mas nosso flete, engorda outras
barrigas!
Entre relinchos, olhares
buscam libras!
Os sentimentos estufam as
guaiacas
e ali somente habita o seu amigo!
Muito dinheiro que atrai a
tantos outros.
Notas que pegam o fim de uma
alegria,
mas não compram o amor a sesmaria!
Nem mesmo versos, que choram
pelos potros!
Que o corredor e o pingo
sobrevivam!
Que eles rebrotem andanças e
jornadas!
Que o Rio Grande mantenha
sempre vivo
este querer que explode, qual cartucho!
Beira das sangas, as éguas parideiras!
Chapéus tapeados, rosetas cantadeiras
e o entono centauro do gaúcho!