RODEIO
DAS ALMAS
Lauro Antonio Correa Simões
Despacito,
me
fui enraizando, qual um pé de angico
que
nasceu por conta,
sem
nenhum olhar a bombear-lhe moço
e,
somente a erva das cuias lavadas,
e
regar-lhe a alma!
Despacito,
igualzito
a ele, fui fincando fundo
as
tenras raízes, desviando pedras;
A
beber das secas
o
orvalho doce do meu germinar!
Tive,
como
ele, as brisas da pampa aberta
e
irmãos frondosos, no mesmo terreiro!
Sim!
Sempre
despacito, fui corpeando sombras,
a
buscar o sol que nasceu pr’a todos...
E
clorofilar em minhas artérias,
que
o verdor das folhas mostram minha face,
tal
e qual eu sou!
Despacito,
fui
olhando à volta, a ilusão e a vida
dos
meus semelhantes!
A
razão dos frutos, de um pomar florido,
cernes
vigorosos, rosas e glicínias
a
estenderem ponchos pr’a sombrearem cepos...
E
dali, as risadas altas, as prosas e chistes,
os
comunicados no rádio de pilhas e, nós
-
eu e o angico - dois guris no tempo,
germinando
juntos!
Despacito!
Vi surgindo,
lentas, no rosto as penugens da adolescência
e o
pé de angico a vencer a quincha da ramada viva
e
estender os braços, num louvor a Deus!
Este,
o momento lindo de tourear o mundo,
não
temer tormentas, nem as calmarias
porque
a vida, às portas, esqueceu tramelas!
Ah!
A
juventude de caminhos largos, a coragem e a fé!
Eu
e o angico, de raízes firmes, nossas almas - pampa
de
rondar estrelas e beijar a lua!
Depois,
a
la maula, o tempo
empreendeu
galope em nossas pisadas.
De
nada valeu “enredar o rastro”
e
aprender-lhe as manhas!
O
angico adulto, já sentiu os olhos
que
num tempo velho, nunca o notaram!
E,
eu, agora homem feito, igualzito a ele
-
de raiz madura - já arranchei os sonhos
dos
meus tempos moços, p’ra viver em paz!
Hoje...
Só
me falta ele
que
ficou na estância da minha mocidade,
junto
aos pessegueiros e das laranjeiras
que
eu galgava os galhos!
Quando
cevo o mate, longe das glicínias
que
sombreavam cepos...
Lá
me vem o angico - que conseguiu patas
com
algum petiço de guri andar
p’ra
plantar-se junto das minhas lembranças
e,
me ver mateando!
Sinto
falta, amigo,
da
tua presença, nas horas de charla do meu amarguear!
A
figura altiva de estendidos braços, p’ra abraçar o céu!
O
teu jeito humilde de ajuntar parceiros
que
a campear guarida, sabem teu abrigo;
Ao
tosarem olhos e limparem ubres
de
ovelhas cheias, para a parição!
Talvez,
de
já hoje, o teu cerne seja um moirão de cerca
de
durar cem anos!
Na
imagem dos netos, quero ser igual,
velho
companheiro de guapear invernos!
Quem
te disse, angico
que
nós, os dois juntos
não
somos eternos?...