Lauro Antonio
Correa Simões
Quem se fez de olhos d´água e sendeiros,
Da seiva dos ilustres e dos peões.
Quem se fez de fogoneadas
estradeiras
E de d´álvas, berros, ruflos e tropéis.
Quem se fez de madrugadas e alvoroços
Fandangueiros, por certo e distâncias
É esse homem, sempre eterno nas estâncias,
Vida a fora, conservando um tempo moço.
Quem se fez da singeleza das imagens
Dos rodeios, de domas e de apartes.
Quem fez do próprio pampa um mundo vasto
Na intimidade serena das pousadas.
Quem fincando fundos rastros, qual profeta
Nas vergas dos caminhos e lindeiros,
Se tornou
a voz rural desses campeiros,
Alma, imensa, com palavras de poeta.
Quem se fez de ousadias e coragem
E semeou pelo tempo suas raízes.
Sentinela e guerreiro entre sagas
Dos destemidos caminhos de sua gente...
E nas prosas galponeiras, a experiência
Plantou rumos p´ra os piás que, no
amanhã
Hão de curtir-se pelos mesmos picumãs
Dos fogões espalhados nas querências.
Esses campeiros - talvez rudes na figura,
Alma gemêas do sem fim das
amplidões.
Esses homens com destinos definidos
Desde o ventre, sob quinchas de
esperança.
Esses campeiros humildes, servidores,
Campereando
realidades e razões,
São
o pago renascido nos galpões.
Pais-de-fogo,
preservando seus valores.
Esse guri, pés descalços, calça curta,
Recolhendo no potreiro lindos sonhos.
Esse guri, que apresilha o sovéuzito
Com rompância de torena, igual ao pai.
Esse piá que arrocina o cavalete,
Imaginando tropas largas e repontes,
É a campeira estampa no horizonte.
Novo dia - alvorada de um ginete.
Deles a força da terra fecundada.
O pão na mesa e a certeza do porvir.
Deles a luta incessante, dia a dia
Nas sesmarias repovoadas de ternura.
Deles o impulso, o brio e a devoção,
Forma e estirpe, frutos e sementes
E os destemidos caminhos de sua gente
Clama o progresso para nova plantação.
Esses campeiros que aos setembros,
orgulhosos,
Surgem audazes pelas ruas das cidades
E entre aplausos, retratando velhos mitos
De que o gaúcho não morreu, nem morrerá.
Esses campeiros que jamais ficarão sós
E que reluzem sóis radiantes na aparência,
São os espelhos de uma raça em procedência
Revivida em cada um... em todos nós!