E
ele voltava com seu jeitão de sempre,
Bem
de-a-cavalo e chapéu negro requintado.
Decerto,
envergando o mesmo tirador quase sem flecos;
O par
de esporas de “quebrar tiranos”,
O
pala-a-avestruzeiro sem bordados
E,
a mala-de-garupa boca larga
Repleta
de histórias e tarecos.
Agora,
ele voltava, isto que importa
Porque
São Pedro não quis abrir-lhe a porta
Na
rodada mais feia que tivera.
Quem
sabe o motivo do regalo? ...
Talvez,
porque naquela primavera,
Numa
rodada braba d´algum potro,
um de-a-cavalo.
Três
anos! Três longos anos! ...
Voltava
em trote chasqueiro como pingo de monta
Soubesse
da imensidade daquela alma sedenta
Para
rever-se, afinal, no cristal do espelho d´água
Da
cacimbinha em pedrada dos tempos do faz-de-conta.
O
tirrim da espora grande
Porfiando
de contraponto ao som do coscós do freio,
Anunciava
pelo campo, no alce dos quero-queros
O
retorno de mais um criado sobre os arreios.
Voltava
pleno de orgulho saber o valor da vida
E
pra “touros” e ventenas o viver usa o “cachorro”
Pois,
preso pelo focinho não se nega o cabresteio.
Ah! Se não fosse a rodada e
que o levassem à força
Pra
remendar os estragos e emendar alguns pucheros
Saberia
quase nada, além de lidar com potros,
Tosar
nalguma comparsa ou consertar uns aperos.
Sim!
As andanças ensinam por rude que o homem seja!
Dignidade
e razão, compreendera a importância
E
aos tentos de um laço forte, sem querer as comparara
Porque
igualava na essência o rico e o peão de estância.
No
fim, até que a rodada mais lhe deu do que tirou!
Lhe deu a luz dos caminhos ao ensinar-lhe os desvãos,
Porque
as coisas verdadeiras que valem mesmo a pena
Só
se as pode avistar com olhos do coração.
Foi
guardando na memória essas leis tantas da vida.
Que
o mundo nem sempre dita mas gosta de nos cobrar
E,
quem precisa, obedece! Senão, mango e nazarenas!
La
maula!
Um
homem se doma como se doma um cavalo!
Um
buçalzinho de corda, quando o flete ainda potrilho!
Pra
o guri uma bombacha o faz sentir-se homenzinho
E,
assim, começa a história de quem chamamos de filho!
E
quanto orgulho sentido dos pais na amadrinhada
Porque
o viver não dá tréguas ao homem e ao animal
E
quem voltava sabia que o respeito e amizade
São
bens para a vida inteira. Com ele foi tudo igual!
Repisando
o próprio rastro pra rever coisas queridas
E
escorraçar as tristezas, num gesto de rebeldia.
Este
gaúcho que volta a matutar em silêncio
Do
que seria da vida sem sonhos e fantasias?
Nos
mates da madrugada recolheu os seus fantasmas
E a
alma encilhou o pingo para, enfim, voltar à cena.
A
fé revigora o homem porque hà poesia na luta
E
quando foge a esperança é quando morre o poema.
Aos
olhos de um índio xucro também se acendem visões
E o
coração fogoneiro de pronto abre a sua mala.
Por
isto a estrada, em verdade, ainda é a melhor escola
Que
a peiteira não sufoca quem sabe desabotoá-la.
Das
tantas coisas da vida, talvez a maior valia
Se dava dar ao amor, áquilo que mais se quer.
À
terra que nos acolhe no labor do dia a dia
E o
sincero bem-querer entre o homem e a mulher.
Três
anos! Três longos anos! ...
Voltava
revigorado e isto se lia em seus olhos.
O
mesmo jeitão de sempre, porém, trazendo outra luz..
Talvez
o clarão da vida a iluminar-lhe a essência
Ou,
quem sabe, algum candieiro que lhe emprestara Jesus!.