ALMA DE CAMPO

Lauro Antônio Corrêa Simões

 

 


Fui me enfurnando...

Como fazem os olhares nas distâncias longas!

Como fazem as almas guitarreiras, junto as brasas,

Depois que as porteiras tombam e as milongas

Vão se esparramando, igualitas as tropas

Em pouso de estrada, distante das casas!

 

Então...

Sou fogo: - Um aqui, que ataca

A virar cabeças p’ra o sem fim do rumo

E, acolá – alumiando na restinga quieta

Namorando a aguada, sou fogão ponteiro

A clarear sovéus e tisnar estacas!

 

E, quantos...

São tantos e tantos, ainda piazitos, ao redor do fogo,

Repassando cuias e a lotar cambonas!

Oigalê Rio Grande!

Quando desencilha – para fazer muda – tem fletes de sobra,

Porque traz tropilhas de almas gavionas!

 

Sim!...

Os horizontes – p’ra quem segue rastros pelo mundo a fora –

Tem mundéus armados aos que andejam lerdos a levar repontes!

- Não basta ao horizonte, recortar as cores do verde e do azul!

Para quem se vai – pela vez primeira – Tropereando a sorte,

É esmeralda o campo e azulego o céu!

Tem preciosidades seja ao Norte, ou Sul!

 

Ah, Rio Grande Velho!

Em ti, o florão dos sonhos é um centauro altivo

- Sem bocal no queixo – que a metade homem

( A história conta) refugou faz  tempo!

Olho neste espelho, bem lá, fundo ao peito

E me abanco, manso, num cepito baixo,

A bordonear versos, imitando o vento!

 

Por isto, me enfurno...

Cada vez mais longe, vou campeando trilhas

- Desde as nascentes do Ibirapuitã – no tordilho Vida!

Sim!...

Chama-se Vida meu tordilho amigo, de fazer apartes!

Repontar a arte destes homens simples, iguais coronilhas!

 

Talvez...

Este rio da infância,  tenha na barranca de um lagoão perene,

Algum olho d’água que nos mata a sede dos velhos costumes

Ou, quem sabe, a terra – com cinzéis de prata

A copiar estrelas nos fez vaga-lumes!...

 

Mais e mais me enfurno

Pelas grotas fundas dos rincões agrestes

Onde – por macaieiro – tenho um rancho–alma

Sob um “móio brabo”- Num perau maciço!

Ah, sim, tenho estradas longas, pampas e milongas

Guitarreando vozes, nos planos e cristas!...

A tranquear, no rumo, meu tordilho arpista

Escarceia – guapo a semear feitiços!

 

Ah, flete andarengo

Pois – mesmo na sogaestradeia ao largo do clarão do fogo,

Repisando o rastro d’algum sorro alçado no ermo do campo!

 

Quando a boieira avista em seu catre

O pelegão mouro das barras do dia a pintar o céu

Sei, que ao cansar de mate, vou bombear o vulto

Deste meu tordilho – a trocar orelhas – lambendo o sovéu!

 

São essas distâncias...

( Minha voz se embarga)!...

Pago, me desculpa

Se daqui me vou nesta recorrida!

É que pelas rondas destas tropas largas,

Quase sempre escapa

- Do laço mais forte –

Meu tordilho... VIDA!