VOZES DO CAMPO

           Jurema Chaves

 

 A minha alma soluça

Vendo as matas devastadas

E as águas puras espelhadas,

Ficando turvas e escassas

E a cada dia que passa

A prepotência vencendo,

A alegria fenecendo

Crianças em abandono,

A dor que  rouba meu sono

Já não encontra acalanto,

A mágoa entoa meu canto

A voz ficando embargada,

E nos olhos da madrugada

Vislumbro gotas de pranto.

 

Pelas calçadas despidas

Vejo retalhos de vida

Num vai e vem sem destino,

O tempo leva o menino

E um velho ocupa seu posto,

Com cicatrizes no rosto

E o olhar em desatino.

 

Por isso faço um apelo

Aos homens da minha terra

Não deixem os campos tapera

Buscando a grande cidade

O brilho, é só falsidade

Campereando estradas nuas,

Frustrando os raios da lua

E os sonhos viram saudade.

 

Conservem a singeleza

Que o ruralismo oferece

A brisa fazendo prece,

Para o dueto das águas...

Aqui só gritos de mágoas

Rasgando o frio das calçadas

Outros em celas trancadas,

Perdidos sem direção,

Bebendo a poluição

Sem mate, nas madrugadas.

 

Por isso meu canto chão,

Mensagem voz-oração

Emponchando os quatro ventos,

Desatando tento a tento

Deste pampa coração.

Que a fraterna comunhão

Tenha um porvir de esperança

E a amizade uma trança

Em cada aperto de mão.

 

Quisera eu que meu verso,

Fosse um manto de ternura

Levando luz e cultura

E uma ponchada de afeto

Servisse de colo e teto,

Pra aqueles que nada tem.

Fazer o sonho de alguém

Tornar-se realidade

Com asas de liberdade

E a estrela de Belém.

 

Que a amizade florisse

A cada abraço ofertado,

Ver o Rio Grande embalado,

Com simples versos terrunho

Que a bandeira que empunho

Tremulasse nas alturas.

Que uma chuva de ternura

Se inflacionasse no mundo

E a paz num lago profundo,

Renasça da terra pura.

 

Bendito seja quem planta

No ventre da terra santa,

Sementes de trigo e pão.

Benfazejo coração

De todo o agricultor,

Que reconhece o valor,

No ouro dos arrozais,

Cultuam seus ancestrais

Sem temer sóis e geadas,

Benditas mãos calejadas,

Que sustem o mundo... senhores

Dormem beijando o luar...

E acordam colhendo flores!