SIMPLICIDADE
Jurema Chaves
Homem simples, da campanha,
É pra ti meu vercejar,
Neste singelo cantar
Que aprendi desde cedo
A poemar
em segredo
Junto com a passarada
Quando rompia a alvorada
Enfeitando o arvoredo.
Teu viver simples contém
Toda singela beleza
Junto da mãe natureza
Que tanto pode nos dar.
Pois sabes valorizar
Cada flor, cada perfume,
O brincar dos vagalumes
E o encanto do luar.
Colhes o fruto da terra
Que semeias pelos campos,
Tendo aí mil encantos
Que aqui não posso ter.
Assistes o sol nascer
Pisando a relva molhada
Tens campos brancos de geada,
E o encanto do entardecer.
E adormeces aos sussurros
Da murmurante cascata,
Caindo em chuva de prata
Com respingos de luar
Que feliz,
vem se banhar,
Coberto de um lindo manto
Bordado de mil encantos
Lá no céu vai descansar.
Pisando o tapete verde
Deste nosso chão divino
Como eterno menino
Nem sente a vida passar
Entre o sol e o luar
E a primavera das cores
Num arco-íres de amores
Para o teu mundo enfeitar.
As tuas mãos calejadas
Que engrandecem o pampa
Sinto o amor que se acampa
Dentro do teu coração
trazes na alma a tradição,
É tão franco o teu sorriso
Habitando o paraíso
No verde do meu rincão.
Por isso, homem do campo,
Eu te admito e respeito,
Pois conservas em teu peito
Tamanha simplicidade
Sem conhecer a saudade
De quem se ausenta do pago,
Por isso teu mate-amargo
Tem gosto de liberdade.
Enquanto aqui na cidade
Vivo mateando
solito
Sufocando o próprio grito
Que tenta saltar com ânsia
Para vencer a distância
Que me separa de ti.
Lindo torrão em que nasci
Onde passei minha infância.
Eu te peço,
homem do campo,
Que não te afastes da terra,
Aqui só se fala em guerra,
Tu aí semeias paz,
Na plenitude que traz
Tua semente de vida
Na paisagem colorida
Que a mãe natureza te faz.
Vai pra ti, meu canto chão,
Toda a pureza da sanga,
No gostinho da pitanga
Que o meu viver acompanha
Nesta ternura tamanha
Canto chão é minha alma
Que adormece da calma
Entre os braços da campanha.