ROMANCE  DA  ESCRAVA  FLOR

Jurema chaves

 

É mais um drama da vida

Escrito por mãos sofridas,

Regados de isso e pranto..

Tal qual as flores do campo

Arrancadas pelo vento,

Antes de florescerem

Morrem secando ao relento.

 

Assim nasceu na senzala,

Uma linda flor, mulata,

Trazia o vede da mata,

Nos olhos vivos e ardentes!

O encanto do sol nascente,

No riso que florescia!

Filha da  escrava , Maria,

E do patrão , o senhor...

Senhor de terras e..  gente

Que só eram diferentes

Por serem de outra cor.

 

A flor cresceu, e escrava

Nas mãos ingratas da sorte

E aos maus tratos de um feitor,

Índio rude, muito maula,

Deixava  a pobre sem fala

Com a chibata na mão,

Porem, em seu coração

Como um espinho,,, ferindo

Amor, pelos olhos lindos

Da mulata Conceição.

 

Como um pássaro sem asas

Que nunca poderá voar,

Sem direito pra sonhar

Naquela triste senzala,

Aonde o grito se cala,

E a dor do pranto  adormece

Até o soluço emudece,

Num peito sem liberdade!

Na triste  desigualdade ...

De ambição e desamor

Fazendo morrer a flor,

No lodo da crueldade.

 

 

NA  solidão de seu peito

Somente ela  ,sabia..

As perguntas em agonias

Feitas por se coração!

Porque a mãe natureza

Premiara com tanta beleza

Quem já nasceu na prisão,

Da senzala fria, escura,

Onde tantas criaturas

Padecem  na escravidão.

 

E ... quando ela passava

Com seu andar de potranca.

Suave, gingando as ancas

Entre escravos e senhores...

Eram suspiros de  amores...

Entre olhares de cobiça

Pra  aquela linda mestiça

Que tinha a graça das flores!

 

Mas um dia  Conceição,

Se  apaixonou por Tonico

Um negro forte, bonito,

De olhar firme e decidido!

No peito um amor contido,

Queimado  por fogo ardente,

Em beijar os lábios quentes

Num amor correspondido.

 

Assim dois corpos se uniram

Quando a  pampa  adormeceu!

Um manto escuro desceu,

E o silêncio foi cortado

Por gemidos sussurrados,

Num grande amor que explodia...

Porem, aquela alegria

Tinha os minutos contados.

 

Envolvidos na ternura

Essas duas criaturas,

No manto escuro da noite

Unidos no mesmo açoite,

De  paixão , ciúme e dor!

Que a lua, com seu fulgor

Iluminava  silente....

E , guardaria , certamente,

Esse  segredo de amor.

Pois o malvado feitor

Perseguindo Conceição

Segado pela paixão

Por ciúmes  consumido

Ao  ver os dois tão unidos,

No amor, á tanto  esperado

Dois seres apaixonados

Buscando o tempo perdido.

 

 

Mas  a  lei da escravidão

Sem perdão e sem carinho

Amarrado ao pelourinho

Tonico foi açoitado

Cruelmente castigado.

Pela chibata inclemente,

Era mais um,  inocente...

Pagando sem ter errado...

Sentia  apele rasgando,

A carne dilacerando...

As forças lhe abandonando

E foi morrendo ajoelhado.

 

Um grito de desespero

A voz morreu na garganta

Sufocado pela dor!

Cansado de sofrer tanto,

Erguendo seus olhos francos

Fitando firme o feitor,

Naquela lenta agonia

Enquanto a alma subia

Ao encontro do senhor!!

 

E foi descansar  nos braços,

De algum  anjo, certamente,,,

Livre de troncos e açoites

Foi brilhar no céu da noite

Na calma da madrugada...

E esperar sua amada...

Sobre um raio de luar!

Só o amor puro das almas

Ninguém pode,  separar

 

Conceição não  suportando

O sofrer de seu amado

Vendo morrer açoitado

O corpo que foi tão seu.

Num repente enlouqueceu..

Levada por dor atroz,

Livrando-se de seu algoz,

Tomou veneno,,e morreu!

 

Assim partiram juntinhas

As almas, que não tem cor,

Foram viver seu amor,

Distante da crueldade,

Com paz e serenidade,

A alma, não vaga ao léu..

E aquele amor tão bonito,

De Conceição e Tonico,

Vive agora num   ranchito

Na  azul  planice  do céu!

 

O dia amanheceu triste

O sol não apareceu..

Uma nevoa triste encobria,

Como pranto que caia

Da natureza.do céu...

A cascata emudeceu...

Entre triste.... comovida

Silenciosa despedida,

Pra flor... que  não floresceu!

 

Até o  Jacarandá ,

Que por não sabe chorar.

Despetálou    suas flores

Juntando perfume e cores

Formou um manto lilás

Para cobrir Conceição

Que ao seu pé, sobre o chão

Morrendo,  encontrou a paz!

 

Restam duas cruzes plantadas

Numa colina distante,

Contrastando com o horizonte,

Numa beleza sem par!

Onde a paisagem se veste,

Com lindas flores silvestres,

Numa profusão de cores

É mesmo um idílio de amores...

A impressão que se tem,

Que lá de cima  do além,

Cultivam esse jardim

E ao ver os pés de alecrim

Com seus ramos entrelaçados

Parecem as duas  alma..

Num abraço... ETERNIZADOS!!!!!!!