QUANDO A VIDA LEVA UM SONHO!

Jurema Chaves

Quando um sol de primavera

Pintou sonhos nas campinas

Um jovem taura campeiro

Buscou num olhos brejeiros

Um mundo de mansidão,

Pra vivenciarem o futuro

Construindo assim, sem pressa

Cumprindo todas as promessas

Que num altar foram feitas.

 

E os dias foram passando

E uma linda bonequita

Veio tornar mais bonita

Aquele singelo rancho

Eram risadas de sóis

Que a vida multiplicava!

 

Lindos verões, brisas leves,

Um rancho cheio de amor

Roseiras brancas se abriam

Nas manhãs ensolaradas

E abelhas enciumadas

Vinham beber-lhe o perfume!

 

Mateavam sempre à tardita

Na varanda recostados

Na prosa que se seguia,

A cuia de mão em mão

E um sorriso pequeno

Com fitinhas no cabelo

Que beleza singular!

Inocentes brincadeiras

Soavam hinos no ar!

 

Mas o tempo, sim, o tempo!

Que não perdoa ninguém

Trouxe um dia a solidão

Para habitar aquele rancho

 

O tempo silencioso

Ignorou-lhe os anseios mais sonhados

Deixando a espinhar-lhe o coração

Lembranças sorridentes das auroras,

E os fins de tarde pra matear com a solidão

 

Na longa estrada do olhar

Só vê silêncio e saudade

Os rastros já se apagaram

Nem um eco na distância

Desses nada que ficaram.

 

Não mais flores na varanda

Não mais o mate pra dois

Calou-se a lira dos ventos

Só ele vaga, tormentos...

Num catre prenhe de insônias.

 

Num fogão de cinzas mortas

O olhar vagando a esmo

Geada do mês de agosto

Veio pintar-lhe os cabelos

Guitarra quedou-se quieta

Faltam-lhe notas nos dedos.

 

A madrugada vagueia sonolenta

E uma garoa goteja incessante,

O vento frio açoitando as casuarinas

Gemem fantasmas na noite.

 

O taura, melenas brancas

Lentos passos - que nem lembram

O guapo moço de outrora,

Que trazia a luz da aurora

Aprisionada no olhar!

Recolhe seus desalentos..

Pois no caminho do tempo

Jamais se pode voltar!

 

Ficou silêncio e distância

Sombreando dois olhos tristes...

 

Mas o relógio celestial

Não tem ponteiro pras horas

Nem calendário com datas,

Mas tem as horas exatas

Do tempo de todos nós!

 

E o taura, velho solito, se perde no pensamento

Com ele só a saudade irá costeando o horizonte

Quando o candeeiro da vida se apagar.

Nada levará consigo - quem sabe a solidão que o acompanha

Seguirá seus passos pra um derradeiro adeus?

E as lembranças, porque será que nunca emudeceram?

Nem a força do tempo as fez calar!

 

Pois a única certeza que carrega

É que o tempo continua sempre igual,

Do mesmo jeito - sempre um menino

E nós que chegamos ao final!

É duro compreender e aceitar

Que de tantas intempéries e tanta luta

Só levamos daqui o silêncio e uma cruz,

Na terra bruta!