PONCHO DE AUSÊNCIA
Jurema Chaves
Pelas várzeas do meu peito,
onde deixaste semeada,
uma seara de amores,
hoje as lembranças florescem,
umedecidas de orvalho,
o pranto da tua ausência,
a brisa se fez saudades,
e, vem sussurrar teu nome,
trazendo imagens tão vivas
como se o tempo voltasse!
Imagens que estão gravadas,
no diário do meu peito!
E, nas páginas em que deixaste
tantas juras sublinhadas,
vejo agora, amareladas,
amarfanhada pela mão do
tempo,
frágeis pedaços de nós dois!
Que recomponho hoje, na
memória,
no vôo insano da imaginação!
Onde o som da tua voz, ficou,
gravada,
como nota musical eternizada,
na partitura imortal,
de um sonho em flor!
Um cabresto de lembranças,
traz minha alma palanqueada,
na janela do passado,
revendo o campo azulado,
do teu olhar de ternura!
Onde o potro dos meus sonhos,
carregados de desejos,
buscava o céu do teu peito,
pra adormecer no teu beijo!!!
Lembro teu olhar azul,
a fitar-me tão sereno,
dois mundos, ternos...
pequenos,
dois pedacinhos de céu!
Como a estrela boieira,
vem bordar o véu da noite,
numa tropilha de luzes!
O lumieiro
dos teus olhos,
igual estrelas cadentes,
vem brincar no peito meu!
Como se o tempo retornasse,
e o teu sorriso voltasse,
prá nunca dizer
adeus!!!
As mãos indóceis do tempo,
vão trançando tento a tento,
cada momento vivido!
Embuçalando os recuerdos,
que insistem em bolear a perna,
no rancho dos sentimentos!
Batendo estribo com o tempo
sem tempo praesquecer!
A espora da saudade,
sangrando os flancos do peito,
só faz doer... e doer!
Porque esse amor continua,
igual ao brilho da lua,
que se esparrama nos campos,
bebendo o orvalho da noite,
tu bebes os meus soluços
que eu sufoco calada,
no poncho da solidão!
E no vazio que deixaste,
ecoam passos na noite,
embriagada de angústia,
sentindo a falta que faz,
a falta do corpo teu!
Faltas que vem sombreando,
caminho do meu querer,
onde deixaste plantada,
luz do riso mais doce,
em cada curva da estrada!
Ao raiar de cada dia,
tua imagem se reflete,
como saudades florindo,
no pala branco da aurora,
trazendo ainda nos braços,
o calor de tantos abraços,
que um dia sem querer,
levaste embora,
deixando o frio de uma tapera
em mim!
Onde a esperança vai
mermando a cada
dia!
Parece que, eu morri no
campo azul dos
olhos teus,
naquele adeus, que nenhum
de nós queria!!!
Ao fitar estradas longas,
tão vazias, desabitadas de ti!
Onde as cicatrizes rubras dos
teus rastros,
já adormeceram,
impregnadas ainda, com o teu
perfume!
Seguiste, galopando a linha do
horizonte,
como quem tem um infinito
pra buscar.
Lembranças tuas, que a
saudade cabresteia
nos campos solitários,
do meu eu!
Marcas... que
a xucreza do
tempo
não redime,
dos momentos mais sublimes,
que foram meus... e teus!!!