PIAZITO

 Jurema Chaves

 

Piazito órfão,

De roupas rasgadas,

De faces marcadas

Pelo sofrimento.

De olhar tristonho

Arrastando os sonhos

Com seus passos lentos.

 

Piazito pobre

Que leva consigo

A falta de amigo,

A falta de um pai,

Piazito que chora,

Tão só pela vida,

Não encontra saída

sufoca seus ais.

 

Piazito descalço,

De olhar inocente,

Que a sorte inclemente,

Jogou sem destino.

E o pobre menino

Vagando nas ruas,

Nas calçadas nuas

Ficando e partindo.

 

Piazito pobre,

Perdeu sem ganhar,

Os pais que poderiam

Seu sonho embalar.

Tão só, sem carinho,

Tão só, sem ninguém,

Pedaço de alguém

Que pode amar.

 

Dizes que és órfão

Mas nem mesmo sabes

Quem foram teus pais.

E nos vendavais

Das adversidades

Não viste a bondade

Na estrada comprida

Tão fria, despida,

De humanidade.

 

Eu quisera tanto,

Humilde piazito,

Viajar num sonho

Te tomando a mão,

Pra alcançar a imensidão

E lá no céu, a laçar estrelas,

Para de uma a uma, então traze-las,

E aprisioná-las em teu coração.

 

Veria então refletida nos teus olhos

Duas estrelinhas a cintilar

E no teu sorriso, ver brotar,

Um riso doce, cheio de esperança,

Vestindo brisa, a brincar de infância.

Pintando o mundo, aprendendo amar.

 

Que brilhe a paz,

Que brilhe a vida

Tornando mais colorida

A paisagem deste teu caminho,

A brotar ternura e florir carinho

Realizando teus desejos mil,

Para que amanhã, piazito pobre,

Possa então com sentimento nobre,

Construir com amor um novo Brasil.