OLHOS DE GAROA
Jurema Chaves
São tão profundos os teus
olhos
Inflacionados de amor
Duas lagoas bonitas
Onde duas luas benditas
Derramaram luz e cor
Para confundir meus sentidos
Coração - barco perdido
Tentando vencer as ondas
Na tempestade que ronda
Meu coração sonhador.
Ah! Estes olhos de garoa
Que qualquer lembrança à toa
Já umedece a vidraça,
E quando por mim tu passas
Fingindo que não me vê,
Baixo a cortina dos olhos
E finjo não te querer.
Ah! Se eu pudesse prender
Teu olhar dentro do meu,
E fingir que não percebo
Que finges que me esqueceu.
Quisera parar o tempo
Quando me olhas sem jeito
Com jeito de me abraçar,
Com jeito de quem implora
Dizendo que vai embora
Mas pedindo pra ficar.
Estes olhos caborteiros
Me olhando assim disfarçados
Deixam os meus petrificados
Como se um gesto qualquer
Mudasse o tempo e o espaço
Então, me perco no abraço
Que perdi sem nunca ter
Como quem chora sorrindo
Como quem jura mentindo
Eu juro que te esqueci
Tentando encontrar um jeito
De mergulhar em teu peito
E me encontrar dentro de ti.
A calidez
dos teus olhos
Como remanso de açudes
Entaipados de ternura,
Azulados de aguapés,
Como bandeiras de paz,
Drapejando no infinito
E em teu sorriso bonito
Reflete o anjo que és.
Teus olhos são meus pecados
Meu crime sem redenção
O silêncio do meu sacrário:
Duas cruzes do meu calvário,
Duas contas do meu rosário,
Minha sublime prisão,
Minha lúcida loucura,
Meu abrigo e solidão.
Meu olhar abraça o mundo
Mas se perde num segundo
Na busca de se encontrar,
Neste amor que é tudo e nada,
É como a luz da alvorada
Varrendo as nuvens cinzentas
Para abrandar as tormentas
Nos recôncavos da alma.
É na taça destes teus olhos
Que meu olhar se embriaga,
E ao mundo inteiro propaga
O tudo, que nada tem,
Para onde vai, de onde vem
Pois nada disso interessa.
É o tempo prendendo a pressa
Perdido dentro do tempo
Quando uns olhos desatentos
Se entregam por sentimentos
É como uma eternidade
Vivida num só momento.
Teus olhos tão adoráveis,
Rudes, ternos, afáveis
Mais lindos nunca encontrei,,
Nos sonhos que acalentei,
Em sonoros madrigais,
São as notas musicais
Da valsa que não dancei!
Teus olhos são
passaporte
Para ir de sul a norte
Alando meu coração
É beijar a lua no espaço
É ter o mundo nos braços
Sem tirar os pés do chão!