NAS ASAS DE UM SONHO

Jurema Chaves

 

As lembranças calçam esporas...

de repente...

Sorrateiramente... vem sangrando os flancos

Há tantos e tantos caminhos pra andar.

Se colhe o que planta, já diz o ditado

E o tempo passado não volta jamais.

 

Não existe retorno na estrada da vida,

Se perde a partida, ou se ganha no mais...

Olhar para traz é sofrer duas vezes,

Porem o que vale é viver e sonhar.

 

Se os sonhos são loucos

E o tempo é tão pouco, o que vamos fazer?

É um riso chorado, um olhar embaçado,

Um verso quebrado, um canto sem voz.

 

Mas amar vale a pena, e a vida é pequena

Pra tanto querer!

Porém nossos rastros por onde passamos

Saudade deixamos perdida em alguém.

 

Nessas horas, o riso chora

A dor aflora, e o verso vem.

Como a brisa perfumada das auroras

Alando o sonho, pra que possa ir mais além.

 

Se a alma tem sonhos e sonhos têm asas

Precisam voar,

Como um pássaro comum ou um albatroz

Depende de nós, soltamos a voz num canto de amor.

Se desprender do tempo, ser em qualquer tempo

O que bem quiser,

Demarcar espaços, se perder no espaço

Ofertar abraços, de ternura e fé.

Ruflar asas sobre sóis em brasa, se derramar em cascatas,

Beber o verdor das matas,

Descansar sobre os rochedos

Sem medo da imensidão.

Pois quem nasceu pra voar,

Não pode ficar no chão.

 

É um potro corcoveando no alambrado,

Desenfrenado, como quem perde a razão

Pealando estrelas num painel todo nublado

Vai remendando pedacinhos de ilusão.

 

Vai o ginete, laço pronto pra uma armada

Traz a alvorada, serpenteando os arrebóis

 E os girassóis, pintalgando a pampa linda!

Há tempo ainda para o matear nos pôr-de-sóis.

 

A saudade é parceira pras cantigas

Morte e vida se mesclando nas canções

Visível nas histórias mais antigas

Entre neblinas de desejos e emoções.

A saudade e a lembrança entrelaçadas

Vestindo ausências, despe a alma do vivente

Mergulhando numa página virada,

Faz madrugadas, pra cantar o sol nascente,

Vai embalando o silêncio que sussurra

 Velhas ternuras numa cálida paixão

Vai se partindo repartindo nessa arte,

Juntando partes, quando a dor vira canção.

 

São pesares que se perdem nos cantares

Quando os olhares falam mais... 

contam segredos...

 

Campo a fora, vai o potro inspiração

Asas ao vento, procurando ao léu

Um anjo a sorrir, cheio de magias

Na amplidão dessa fantasia,

E levá-lo um dia, pra beijar o céu!