MEU RUMO...

Jurema Chaves

 

São marcar, fragmentos de amor,

Estas cicatrizes no flanco do meu peito.

O bate casco solitário do meu pingo,

Na estrada sem fim desta saudade.

Levando na garupa, peçuelos cheios,

De lembranças...

Onde o sonho, misturou-se com a realidade,

Buscando a tapera tão sonhada.

Que, dentro de mim, continua lá,

Numa toalha verde de coxilha,

Onde o sol se espeta nas flexilhas

E a primavera vem bordar matizes.

 

Sim, hoje é tapera...

Onde foi morada.

Um rancho simples onde as estrelas,

Brincavam a noite inteira.

E, a lua branca. Tão faceira

Se debruçava entre o arvoredo

A descobrir segredos.

E o minuano soprando nas quinchas do galpão

Se juntava ao bordoneio da guitarra.

Nas charlas galponeiras,

Que, para mim foi oração,

O ritual do mate amargo como num gesto de carinho.

A dizer... seja bem vindo.

Meu irmão. Minha tapera.

Onde vivi a parte melhor da minha vida.

Meu santuário de paz.

A cacimba de água pura, onde me debruçava,

Para beber um pedaço do céu.

Na concha das mãos.

 

E, aquele pé de angico, que cresceu comigo.

A oferta-me à sombra como abrigo,

Nos meus brinquedos de piá.

O tempo passou... Eu cresci...E, Parti.

Somente tu, continua lá,

Braços abertos, como a vigiar,

Minha tapera, na eterna espera.

De quem não vai voltar.

No flete nas lembranças, me vejo criança...

Nas margens do rio, mas restam somente,

As minhas pegadas. E, um imenso vazio.

Os ecos ecoam...Acordam silêncios...

Pedaços de risos...

Que o tempo engoliu.

A velha porteira, onde a poeira,

Adormeceu silente,

Na sanga os aguapés sem nem uma flor.

Numa estiagem de ausência,

Adormecida nos braços da querência.

Embriagada pela imensidão,

Cenário sublime dos meus sonhos,

Num dourado de lembranças,

Que guardei em mim.

 

Por onde andará meu gado de osso,

Minha boleadeira de sabugo,

Que naquele faz de conta, era meu mundo.

Um petiço manso, laço de embira...

De piazito no meu tempo,

De infância livre e feliz.

Nem vi que a vida passava, e,

Agora me dando conta,

Do mundo do faz-de-conta...

Há uma distância sem fim

Pra o mundo em que vivo agora.

Mas... Não quero que vá embora,

Este piá que mora em mim.

 

Eu quero seguir sonhando,

Com minha velha morada,

Neste retovo de afagos,

Que minha alma acalenta.

Eu seguirei camperiando,

No lombo desta saudade.

Pois tive a felicidade,

De nascer neste rincão.

No poncho dos meus anseios,

Vivo parando rodeios...

Embalando a solidão.

Golopo potros de vento...

Na névoa do pensamento,

Vejo meu velho galpão.

E, na vertente dos olhos.

Rebrotam pingos de mágoas,

Que sofrenando,calado

Buscando em vão o passado

Que não voltará... Jamais...

Ouço a voz do meu passado,

No memorial das lembranças.

Imagens... Reminiscência...

Que tão vivas se refletem,

No espelho da alma... No olhar.

Mostrando a dura verdade,

Em mil poemas de saudade.

Que o dia a dia escreveu,

Batendo marca na estrada,

Sigo beijando o sereno...

Nos lábios da madrugada,

O mundo... Não mudou nada.

Quem mudou mesmo...Foi EU.