Guitarra Emudecida
Jurema Chaves
Como dói ver a guitarra emudecida
A poeira adormeceu, bordões e
primas
E em mim uma dor, que não se cala
Pendurado na parede aquele
pala...
Que testemunhou nosso
primeiro beijo,
Mas faz muito tempo... que está sem vida
Esquecido... de seu dono permanece..
Assim como eu, vive calado....
Rasgando a madrugada numa prece...
Gostaria de sabe porque te fostes num
repente,
Viver ausente, do teu céu de campos
largos
Deixando amargo beijos, nos meus mates
Nos arremates de cada
entardecer!
A um silêncio que grita em horas mortas
Que ate teu cusco fica dando voltas,
Como pressentindo passos,
retornando...
Nem a cambona
enfumaçada ensaia
um canto
Jogada sobre as cinzas que
ficaram
Das chamas que um dia incendiaram
Nossos olhos de paixão e
encantamento
E hoje quando ouço a voz do
vento
Fazendo gemer as casuarinas..
Volto no tempo, e encontro uma
menina
Sorriso em festa e no olhar a
imensidão
Flor no cabelo, num vestir de
chita
E vinha te esperar junto ao
portão...
Querendo sem poder ,voltar no tempo,
E a desatar tento por tento,
Desse querer bem maior, além de si.
Mas uma voz pequenina a traz de volta...
Seca o pranto que em rebuços se
consome
Colocou no filho o mesmo
nome,
Do amor indelével que repousa
Nos pergaminhos da alma
Pois não ousa... revelar....
O quanto fere o punhal dessa
saudade
Cinco anos... uma eternidade
Pra quem soube amar, além do adeus!
Sim, um piá, um retrato vivo de ti,
Que siquer imaginas, que ele existe
E quando me pergunta com seus
olhos tristes.
Mamãe, quando o papai volta pra
casa.?.....
Meu coração a queimar em brasas..
Sem saber o que dizer ao filho
amado!
Que acalentou no peito solitário..
Calando insônias
, num olhar cansado.....
Pedindo abrigo para solidão
Embalando no ventre o que
ficou
Do mais lindo sonho, já vivido..
Num canto de ninar enternecido
Mãos maternais
,buscam consolo
A embalar no colo, um anjo
adormecido!
O que dizer ,, que
resposta dar,
Sem nem mesmo ela sabe onde
andará
Seu peão... seu coração . seu guitarreiro.
Abraça o filho escondendo a dor..
Numa mentira piedosa ..por amor...
Responde , ele logo chegará.
Quando partiu sem dizer nada
Emalou o poncho e se foi pra o povo
Certamente pra viver um sonho
novo..
Nem deu me
tempo pra revelar
Se foi aos trancos,,sem pra traz olhar>
Foi sem saber que aqui deixava
Mais que um amor, além de nós..
Que na espera prolongada...
O tempo arrasta esporas...
Como custa cada hora... cada dia....
Cada anoitecer uma agonia
Noutro amanhecer, um fio de espera
Lutando para não virar tapera
O rancho que abrigou um sonho
a dois!
Peleando contra as intempéries
Vendo o filho crescer, e tomar gosto
Pelas coisas que foram de seu
pai.
Quem sabe até a guitarra , emudecida
Volte a cantar trazendo vida
E ouvirei em nosso filho a
tua voz...
Talvez uma
tropilha de saudade
Te reponte de volta pra o teu mundo.
Entendendo que aqui. É teu
lugar!
Que aqui tens dois amores te
esperando
Quatro braços, tão vazio dos teus
abraços.
Quantos espaços vazios sem
teu olhar,
Dois sorrisos sem sorrisos
pra sorrir
Guardando mil abraços pra te dar!
Quando te fostes
, nosso filho deu-me forças
Pra lutar e ensinar o que
aprendi
Mesmo tão só, longe de ti...
Nosso filho aprendeu a amar a terra
Onde nossos sonhos floresceram ..
E tu fostes
sem saber que aqui deixavas
Um coração a pulsar nova esperança.
Se voltares o melhor de mim ainda te espera
Nesse filho que é a razão dos
dias meus
Sorvo mates
lavados...prantos, gastos,
Pois parte de mim
ficou sem vida
Na mortalha de uma lagrima escondida.
Em um beijo que soprei, sobre os teus rastros!