FIGUEIRA AMIGA

Jurema Chaves

 

Frondosa figueira centenária
Guardiã dessa morada antiga,
No aconchego de tua sombra amiga
Gerações e gerações foram passando
Teus longos, verdes braços balançando
Ao sabor da brisa, a fazer cantigas

Há uma oferta de paz em tua sombra
Fazendo o poeta versejar
A despacito o tempo foi passando
Só tua ficaste marcando este lugar
O teu silêncio a guardar histórias
Que a sinfonia da manhã vem acordar
E na melancólica beleza que entardece
A brisa, em prece, vem contigo sussurrar

O sol poente debruçado no horizonte
Enquanto a tarde puxa a noite pelo poncho
Que, preguiçosa, vai chegando devagar
A passarada em teu regaço busca abrigo
Pois em teus braços tem espaço pra pousar
E os vaga-lumes acendem pisca-piscas
E a lua, arisca, vai mostrando seu olhar
Beijando gotinhas de sereno
Que a noite morna salpica pelo ar

Eu invejo o teu porte altivo
Sombra e abrigo ao andejo errante
Vejo-me agora de ti tão distante
Quisera tanto poder retornar
Ao antigo lar, buscando auroras
E teu peito amigo reencontrar
Minha canção de acalanto
Que aí deixei na partida
Na xucra oração do mate amargo
Seiva do pago com sabor de vida

Voltar pra ti, figueira centenária
Que mesmo ferida pelos frios de agosto
Segues em teu posto, sem fazer alarde
És meu recanto de amor e carinho
Quisera eu ser um passarinho
E voltar pra ti, qualquer fim de tarde.