DEVANEIOS
Jurema Chaves
Porque tua imagem invade meu
mundo
Invade meus sonhos
Me deixa perdida de tanta ternura
Envolvida no poncho azul dos
teus olhos
Que ás vezes, sem querer, me
deixam muda
É quase uma agonia esse
sentimento
Ouvir a tua voz, os teus apelos
Até no sussurrar da voz do
vento
Sentir meus dedos entre os
teus cabelos
E derramar em tua boca todos
os meus segredos.
Abrir as asas do meu coração
Ofertar-te, meu amor, a minha
vida
Para que te arranches em meu
peito
Habitando essa planície
De ternura que há em mim
Quero mergulhar na paz do teu
sorriso
Na cascata de amor que se
derrama em teu olhar
E, presa no laço dos teus braços
Sonhar, voar como um colibri
Em forma de luz
Tocar o céu com as mãos
Nessa força infinita de amor
Na doce harmonia que há em
nós.
Por isso venha depressa
Galope potros de vento
Mas chegues ao amanhecer
Quero acordar e te ver
Trazendo o sol em teus braços
Com respingos de sereno
O mundo fica pequeno
Quando tenho teus abraços!
Esse sorriso de anjo
Com trejeitos de menino
Tens no peito uma guitarra
Que bordoneia milongas nas
rimas do coração
O carinho silencioso do teu
olhar me enternece
A tua voz é uma prece no
altar da minha ilusão
Falas com tanta brandura
Que, olhando tua figura
Mistura não sei do quê,
Tens o entono de angico
Que se adona das coxilhas
E o sangue dos farroupilhas
Timbrando aço nas veias
De quem enfrenta peleia
Mas vive semeando a paz.
Mui taura, gaúcho pampa
Lenço vermelho no pescoço
Garbosamente amarrado
Um pala branco, de seda
Por sobre o ombro, dobrado
Com jeito de quem carrega
A estrela d'alva
nas mãos
E a bendeira do Rio Grande
No portal do coração.
Moreno, fazes minha alma
Saltar pra fora do peito
Como pássaro insatisfeito
Buscando o mundo nas asas
Pra beijar o sol em brasa
E se banhar na imensidão
Buscar pedaços de nuvens
Bem macias, de algodão
E num alicerce de carinho
Faremos nosso ranchinho
Em forma de coração
Bem no topo da colina
Pra ver quando o sol se
inclina
Beijando o verde do chão.
E quando a morte chegar
Pra separar-me de ti
Quero levar por lembrança
Aquela vincha de trança
Que usas presa na testa
Só pra ter certeza de levar
um pedacinho
Da ternura, do carinho
Em tudo que nos uniu
Ponha assim entre meus dedos
Como se fosse um rosário
Uma relíquia de contas
No relicário sagrado
Das contas do nosso amor.
Quando o sol raiar na alma
Dourando o lago azulado
Nas margens celestiais
Eu te amarei muito mais
Muito mais forte que a vida
Pois o amor verdadeiro
Vai além da despedida
Terás as minhas carícias
No suave toque da brisa.
Que se disfarça, desliza
Para beijar o teu rosto
Serei a chuva de agosto
Batendo em tua janela
Os raios de sol, ardentes
A te abraçar docemente
Nas manhãs de primavera.
Serei uma estrela guia
Acompanhando os teus passos
De algum cantinho, no espaço
Sobre uma nuvem, talvez
Onde estarei esperando
Reencontrar-te outra vez
Sentirás minha presença
Na silente madrugada
No cantar da passarada
No perfume de uma flor
Até o dia, querido
Em que irás encontrar comigo
Pra o mate eterno do amor.