CHILENA DE PRATA

Jurema Chaves

 

Velha chilena de prata

Pendurada no galpão.

Já riscaste muito chão

Por este rincão, o fora.

Dançando chula e malando

Nos bons tempos de outrora.

Revivendo na saudade

Que, o tempo não leva embora.

 

Me ajudando, a domar potro

Minha linda na garupa.

Hoje a saudade é tamanha

Que vai ferindo com jeito.

Cultuando a tradição

cheia de orgulho e respeito.

Ouço teu tirim-timtim

Cantando aqui no meu peito.

 

Hoje coberta de pó

Neste abandono total.

Aqui meu berço natal

Onde fiz tanta proeza.

Me sentia soberano

Nas asas da natureza.

Pra laçar raios de sol

E me banhar na correnteza.

 

Saía todo garboso

Contigo, velha chilena.

E sacudindo as melenas

No meu cavalo tostado.

Para mim, és baluarte,

Das glórias do meu passado.

Companheira dos rodeios

Lembrança do meu passado.

 

Te olho e vejo o passado

Em minha frente desfilando

Sinto as lágrimas rolando

No meu rosto envelhecido

Assim a tua presença

Eu me sinto comovido

Revivendo a tradição

Deste meu pago querido.

 

Não uso mais a chilena

Não monto mais o meu pingo.

E nos dias de domingo

Já não saio campo á fora.

Já não laço a estrela Dalva

E a vida que vai embora

Nos sonhos e desenganos

Da minha alma que chora.

 

Chilena, minha chilena,

Só resta recordação.

Machucando o coração

Que sempre bateu tão forte.

Sentindo o pialo da morte

Gelando meu corpo inteiro.

Serás, a última imagem

Do meu sonho derradeiro.

 

Tu irás junto comigo

Pra me fazer companhia.

Pra que lá na campa fria

Eu não me sinta tão só.

Lá na estância do infinito

A alma não vaga ao léu.

Tu irás parar rodeios

Junto comigo no céu.