CAMPOS DA SAUDADE
Jurema Chaves
Ah! Que saudade do céu da minha terra,
De molhar os pés nos campos
orvalhados,
Beijar o entardecer
afogueado.
Ver o arco-íris se deitar na
sanga
Sentir no céu da boca o gosto
da pitanga,
E o minuano a soprar gelado.
Ver a lua cavalgando os
campos,
O acende e apaga,
lá dos pirilampos,
A estrela Dalva a se espalhar
nas águas,
Então o pranto vem lavar as máguas.
Com o amargo gosto da
saudade,
No imaginário flete da felicidade
Vou buscar o campo que ficou
pra trás,
No aconchego de uma casa
antiga,
Um fogo de chão, a velha
cantiga,
Que me falava de amor e paz.
A velha pitangueira, onde eu
brincava,
O quero-quero gritando na
distância.
A brisa mansa a soprar
fragrância,
Forma dueto, com o sabiá
cantor.
E tudo pra mim vem falar de
amor,
No cenário simples da minha
querência.
Lá no galpão onde eu nasci,
Todo bordado de poeira e
picumã,
Onde eu acordava de manhã,
Com mil pássaros a cantar pra
mim,
Por isso essa saudade não tem
fim
Chega sempre quando rompe a
aurora,
Daqui do peito não quer ir
embora
Por causa dela eu vou
cantando assim.
Só quem, como eu, abraçou o sol poente,
Sorvendo a água cristalina lá
da fonte
E aprendeu a poetar com a
natureza,
Se
encontrou, com a sublime
singeleza,
Das flores que florescem
campo á fora.
Certamente, trará no coração,
agora,
Um mundo de ternura e de
nobreza.
Só, quem como eu, vibra de amor pela querência,
Cultiva, a tradição em sua essência,
Poderá sentir,
o que eu sinto. E compreender
Porque longe do meu sul não
sei viver,
Os seus recantos, suas
lendas, seus encantos,
Fazem parte do lirismo do meu
canto,
E levarei dentro de mim,
quando morrer.
Quem pisou, com amor, aterra
quente,
Verá o amor brotar, como
vertentes,
Cada vez maior dentro de si,
É por isso que estou aqui,
Cantando o meu cão, aos
quatro ventos,
A força xucra desse
sentimento,
Pelo Rio Grande amado onde eu
nasci.
Quem como eu, se derramou
pelas cascatas,
Sentindo o cheiro acre-doce
lá da mata,
Viveu a infância com toda a
intensidade.
Sentiu no peito o sabor da
liberdade,
Ao se banhar de luar pelas
Campinas,
Dentro de si, terá sempre uma
menina,
A correr pelos campos da
saudade.