Caminhos
Jurema Chaves
Vejo sombras de tristeza
No riso rubro da tarde
Que desfalece aos pouquitos
Nos braços mornos da noite
Acordando em mim tropilhas de recuerdos
Como sonhos enraizados na alma
Num eterno querer ficar e partir
Romper alambrados, beber horizontes
Buscar nas lonjuras pedaços de mim
Do longe dos tempos ficaram saudades
De ternas auroras que tive, e perdi
Na paz e ternura de uns olhos morenos
Que nunca mais vi
Hoje, em silenciosas horas mortas
Quando a saudade vem bater-me à porta
Trazendo peçuelos cheios de miragens
Escombros dos meus sonhos
Triste melodia que se eternizou
Em cada estrela do poncho do firmamento
Em cada nota do minuano
Rasgando
Entre lençóis de luar e madrugadas
A noite calada faz tantos ruídos
Trazendo sorrisos na luz do luar
O lenço da brisa, que seca meu pranto
Parece entender que o peito é tapera -
Que o dono partiu.
Aos roucos murmúrios que gritam silentes
Mensagens de ausências que a noite traduz
As cordas do peito gemendo de anseios
Perguntando a esmo - quem foi nosso algoz
Se nos campos de mim só brotam saudades
Porque tu e eu nunca fomos nós?
O olhar cansado de beber
lonjuras
Tentando rever teus olhos morenos
Teu riso pequeno chamando por mim
O som da tua voz que ainda ressoa
No páramo sombrio da nostalgia
Que faz nascer esse poeta triste
Contigo, o melhor de mim partia
Era minha alma que morria
Naquele riso em que chorei
E que não viste
A ruminar meus silêncios, traço linhas
Perdidas nos horizontes de mim
Ao largo trote da vida, por estradas retorcidas
Mistérios que ninguém consegue desvendar
Fostes, galopando as cores do arco-íris
Levando na garupa o meu olhar
Perdido, alongando ausências
Rastreando restos de sonhos
Pisando exangues feridas
Disfarçadas, escondidas
Pelos recantos de nós
Mas o tempo, indiferente a tudo
Sem dar-se conta, ameniza a nossa dor
As chuvas invernais com seu prantear tristonho
Vão apagando rastros, desbotando sonhos
Amortalhando imagens sob o pó da estrada
Cicatrizando a alma machucada
Espargindo versos - digitais de amor.
Indeléveis mãos entrelaçadas
Trocando juras eternas de carinho
Que se quedaram, silenciosamente
Curvadas pela força do destino
Que revive, obstinadamente
Em cada cicatriz do meu caminho.