AMANHÃ
Jurema Chaves
Amanhã, quando a vida se
extinguir de mim
estarei presente, em tudo que amei
nos versos que escrevi, no sonho que sonhei.
Serei uma energia a flutuar
no espaço
na imaginária ternura de um abraço,
na paisagem desse amor... o que
serei?
Serei um colibri beijando a
vida
a brisa mansa nas tardes outonais,
o bem-me-quer, o mal-me-quer, querendo mais,
a flor das macieiras, nos quintais,
o sol deitando-se no horizonte em despedida,
silenciando a tarde, na paisagem colorida,
adormecendo entre o verde dos pinhais.
Uma orquestra de pardais
silenciando,
calando o canto alegre das cigarras,
neste momento a natureza para.
No divino do meu torrão,
mãos que se juntam em oração,
pedindo bênçãos à padroeira Santa,
minha alma se ajoelha quando canta
a melodia que traduz o coração.
Serei raios de sol na terra
quente,
colherei gotas de orvalho no horizonte,
um grão de areia que a onda vem beijar,
uma lágrima marejando teu olhar,
a gaivota com seu vôo solitário,
um sino a tocar no campanário,
um anjo triste que no céu foi versejar.
Quando minha alma for habitar
o infinito
restará aqui meus pobres versos,
pedaços meus, por aí, dispersos,
lembranças vivas que deixei ficar,
em cada flor que desabrochar,
em cada sol poente quero estar,
compondo a partitura, do universo.
Quando serei apenas, saudade,
no coração de quem amei perdidamente,
em cujos olhos, mergulhei suavemente,
reviverei na força deste sentimento,
onde eternizei nossos momentos
toda ternura, que habitou em nós,
ouvirás, meu amor, a minha voz,
os meus soluços, na melodia do vento.
Quando em mim, já não restar
mais nada,
quando chegar ao fim esta jornada,
derramando a última gota do meu pranto,
que cairá sobre o chão que amo tanto,
misturando-se no ar com a neblina,
pra formar-se gotinhas cristalinas,
umedecendo a semente sobre o chão,
e dos fragmentos do meu coração,
faça nascer, mais uma flor lá na colina.