ABANDONO
Jurema Chaves
Vi uma linda criança
sentadinha na calçada
trazia a face molhada
no seu pranto silencioso
como é triste e doloroso
a criança abandonada.
Naquele olhar inocente
eu vi uma queixa muda
pedindo por uma ajuda
naquele triste abandono
anjos dormindo no chão
e a crueldade no trono.
Que falta de humanidade
como a vida é incoerente
condenando um inocente
absolvendo o culpado
onde um anjo de doçura
vive tão abandonado.
Olhando aquele rostinho
vi dois olhinhos tristonhos
de alguém que nem mesmo sonho
tem na vida pra sonhar
traz o inverno na alma
sem ninguém pra lhe ajudar.
Fica olhando a vitrine
e a fome lhe corroendo
segue a vida sofrendo
minha pobre menininha
que dorme na escuridão
acorda na solidão
por não ter sua mãezinha.
És uma doce criança
á margem da sociedade
sentes na pele a maldade
não confias no futuro
neste teu coração puro
desejo plantar amores
para amanhã colher flores
te dando um porto seguro.
Tu pareces um barquinho
de papel jogado ao mar
e prestes a naufragar
tão frágil, tão indefesa
te arrasta a correnteza
sem um porto pra ancorar
muito amor quero te dar
ó pequena princesa.
Queria que Deus me desse
o poder de te ajudar
pra te oferecer um lar
por mais modesto e singelo
te dar todo o amor que existe
transformar teu mundo triste
no mais dourado castelo.