Só de Flor de Pitangueira
Julio cezar Paim
Era
primavera...
Apesar de que a cronologia anunciasse outra estação,
Era primavera, sim...
A agitação dos pássaros, o ipê amarelo em flor e
Límpido azul do céu me davam esta convicção...
Impossível de não ser...
Mesmo que distante,
Era possível perceber a vibração do sangue.
Um fogo em flor...fazendo estremecer um coração
Tomado pela ternura, pela poesia de teus olhos,
Pela graça, pela geografia do teu corpo de garça.
Pandorga de vida ao vento, que, o tempo já não desfaz.
Tendo o pensamento embalado pela harmonia de teu silencio
Que é a mais bela sinfonia de amor e paz.
Antes de ser, era primavera.
Apesar de que houvesse apenas um passageiro
E não houvesse passgem para além dos olhos...
Era primavera, sim.
Mesmo que o trem do tempo ainda tentasse, em vão;
Permanecer parado, estacionado, na velha estação que,
Ao mesmo tempo era, o coração da cidadezinha do interior.
Havia um enigma no vidro de meus olhos,
Do sul de minha alma, vinha um perfume suave,
Trazendo consigo uma energia azul em névoa,
Aquela energia que, vem de ti e eleva...
Tornando mais leve o ar que respiro e, a vida mais bela.
Tudo isso deveria estar escrito numa estrela,
Ou quem sabe, nas entrelinhas do vento,
E por isso deveria ter sido assim,
Mesmo que o inverno não tenha chegado ao fim,
E eu tivesse que me contentar
Apenas
Que é o ponto de intersecção de nossos olhos.
Era primavera.
Era tempo de por terra nova,
Terra de mato sobre as velhas raízes.
Tempo de trocar a terra das samambaias verdes,
As saias que não dão flor
Mas que dançam alegres quando estás por perto.
Era
o melhor tempo de se lançar semente,
E tempo de amar o que fora lançado.
Mesmo que precisasse deixar uma lágrima cair
Para descobrir no vidro dos olhos
A transparência de um grande amor.
E o mais importante, é que, antes de ser,
Já era primavera, e era possível aspirar o perfume
de uma pequena flor que se abria no interior.
Era primavera, sim.
E ninguém me convenceria do contrário.
Não importa que houvesse apenas um passageiro
A espera de algúem na velha estação que, ao mesmo tempo,
Era o coração da cidadezinha do interior.
Havia algo diferente na minha mente e no ar...
Era algo tão sublime tal era a emoção que,
Naquele final de tarde, anterior a primavera,
Até aquela pitangueira do fundo do quintal ficou faceira.
Os olhos, cor de pitanga, miçangas de luz no olhar,
Se vestiu de noiva pra te esperar...
E foi assim que...
Numa noite de luar, alguém chegou meio sem jeito...
E, quase sem notar tocou este sininho que há dentro do meu peito,
Anunciando uma nova estação.
E foi assim...
Que a mais longa espera, se fez primavera...
E foi assim que o mais longo silêncio se fez cançao de amor...
E foi assim...
Antes de ser, primavera, faceira...
Que se fez este romance de amor.
Só de flor, só de flor de pitangueira.