SENHORAS DE SI
Júlio
César Paim
Então ali...
Não me perguntes seus nomes,
que elas estão muito além...
...muito além de um nome de
mulher.
Que mistério há em seus
olhos?...
Que magia envolve a alma
dessas mulheres antigas
que transcendem o preto e branco
das próprias fotografias?...
Sem falar nada, me dizem
muito.
E quanto
mais envelhecem
parecem mais coloridas!...
Como se a todo o instante uma
cor nova
viesse a se fundir a fria moldura de prata
que envolve suas vidas...
As vezes me parece
que saem de si,
e invadem a minha alma
reinventando a Vida!
Ah! Essas mulheres!...
Não sei se pararam no tempo
ou se, por serem fortes fizeram
o tempo parar nas fotografias!
E aí, por mais que me esforce,
não consigo vê-las com a simples representação
de antigas formas femininas...
Vejo-as como senhoras do meu
sonhar,
que de manhãzinha cortam algumas linhas
da camisola azul do céu
para que a menina dos meus olhos
possa brincar
com as primeiras réstias de sol...
Há! Essas mulheres singulares
com ares de nostalgia!...
Só elas tem
o dom de transcender
às próprias fotografias!...
Quando nossos olhares se
encontram,
no alto pensar da sala grande,
meu coração quase para
e o parapeito do meu peito estremece
e quase perde a sustentação.
Há quem queira me fazer crer
Que seus olhos escondem
angústias...
...que um longo esperar –
bordado em ponto cruz –
as fez envelhecer, uma única noite de estrela...
... e,
que havia uma flor no cabelo,
que não apareceu na fotografia
porque alguém a colheu antes de seu tempo.
Eu...Eu não consigo vê-las assim...
Até concordo que em seus
lábios
ficaram algumas palavras de amor
que ninguém ouviu...
...que muitas flores ainda
estão guardadas
em meio às páginas do velho livro de poesia
que até ontem ninguém abriu...
mas eu não posso acreditar
que seus olhos fossem tristes
e solitários...
Creio, sim, que por recato,
Seus olhos só brilhassem
Sob lençóis de luar!...
Às vezes,
me sinto uma delas
que fez de um tempo de espera
novo romance a esperar...
Ou quem sabe, eu seja aquela
que se fez concha do mar
e, se fechou em si
na certeza de que, um dia,
alguém viria para desvendar
o brilho de olhar!
Estão ali...
Não me perguntem seus nomes,
que elas estão muito além...
...muito além de um nome de
mulher!
Às vezes, me parece
que saem de si
e invadem a minha alma
reinventando a Vida!
Bordam cortinas de
estrelas...
E fazem sala aos meus sonhos,
que dançam leves ao vento
sob lençóis de luar!...
Cada vez mais
senhoras de si...
Estão ali...
Em preto e branco...
... o
mesmo mistério no olhar!
Será que eu sou a projeção do
sonho delas?
Ou será que eu sou aquela
que, um dia,
Fez o tempo parar numa
fotografia?