CÂNTICO AO SONHO DAS LAVADEIRAS
Júlio César Paim
Chegam...
Trazendo nos braços
Muitas dúzias de cansaço.
Roupas sujas encardidas
Afundas a trouxa na água,
Tentando afogar as mágoas
Tirar as manchas de vida.
Só a sanga companheira,
Conversa com as lavadeiras
Que não tem com quem falar;
A sanga conhece a razão,
Do suave termo “lavar”.
E as lavadeiras,
Das roupas brancas ao vento
Fazem o seu monumento
Que realidade desfaz.
Lavar não é uma batalha,
Por isso não tem medalha
Nessa guerra pela paz.
Depois de ser enxaguada
Outra bandeira, é hasteada
Sobre o claro céu de anil
E o filho da lavadeira,
Perde os bancos na
corredeira,
Alvejados por anil.
É somente uma criança
Atirando na esperança
Com semente de pitanga,
Pobre mãe, sem perceber,
Deixa as lágrimas correr,
Nas águas claras da sanga.
E ao ver, a beira da sanga
As flores na primavera,
A mulher se desespera
Nos barquinhos do menino,
Que sonha em ser militar
Vê o mundo a afundar
Nas mãos do negro destino.
Lavadeira, emocionada
Leva a mão não acha nada
A roupa está no varal,
Vê de novo a fantasia
As bandeira de utopia
Pela paz universal.
E o sol morre no horizonte,
É hora de deixar a fonte
Arrear bandeira urgente,
Depois, arrumar as crianças,
Faz a janta, não descansa,
Espera o ferro estar quente.
A vida das lavadeiras,
É assim a vida inteira,
bater, lavar, esfregar,
As mãos se batem nas tábuas
Depois mergulham na água
Até o cabelo branquear.
Passam... Voam com o vento,
Sonhando com o momento
Que a realidade desfaz.
Lavar não é uma batalha,
Por isso não tem medalha
Nessa guerra pela paz.