Tradição
Juca Ruivo (José da Silva Leal Filho)
Sou boleadeira Charrua,
sou laço de couro cru.
Sou a sombra de um umbu,
sou touceira de flexilha:
sou pedra duma coxilha
e água de manancial:
sou o pampa matinal
quando à luz do sol rebrilha.
Sou matambre de novilha,
pingando graxa no espeto,
crioulo de fumo preto
e cuia de chimarrão.
Sou baralho de carpeta,
cachaça , tava, cordeona,
sou a chilena chorona
paleteando um redomão!
Sou tesoura esquiladeira,
picana de carreteiro.
sou cambona de tropeiro,
sou cherengue carniceira.
Sou refrescante coalhada,
a canjica saborosa,
sou apojo de barrosa
tirado de madrugada.
Sou Campo Santo esquecido,
sou cruz de beira de estrada.
Sou a tapera assombrada
das luzes e aparições.
Sou coruja de tronqueira
ao quero-quero anunciando,
o lobisomem rondando
em noites de sexta-feira.
Sou lança de meia-lua
de legendárias campanhas!
Comparsa de mil façanhas
do Gauchesco passado!
Sou o sangue derramado
pelos heróis campechanos,
sou tumba dos veteranos
Patriarcas do Rio Grande!
Sou espada Toledana,
garrucha boca-de-sino.
Sou o guasca teatino
que não conheceu fronteiras!
Sou o toruno orelhano
de rodeio sempre alçado,
sou o lenço colorado,
sou o nó Republicano!
Sou galpão de Estância
antiga,
esteio de rancho velho!
em tudo o que sou espelho
o cerne do Nhanduvá!
Sou fio de barba, —
hombridade, —
sou os mortos que relembro,
sou o “Vinte de Setembro”
precursor da Liberdade!
Sou o rijo Minuano
rodopiando na amplidão!
Sou a cinza dum fogão
de acampamento Farrapo.
E sendo também um trapo
da Bandeira Tricolor,
vivando-lhe o esplendor,
sou, enfim,
a T R A D I Ç Ã O !