Caminhos das Missões
Juca Ruivo (José da Silva Leal Filho)
Lusco-fusco. Hora mansa.
Silêncio de Campo Santo.
Se escuta o último canto
dum Bem-Te-Vi solitário,
floreando o hino do pago...
Sombras mortas nas lagoas.
Nunhum contorno se esgarça
na planura ensimesmada.
Somente um vôo de garça
rumbeia lá pelos longes
pra a mancha clara da
estrada,
no caminho das Missões.
Desponta entre a polvadeira,
tembleque, a velha carreta;
chiando um gemer de eixos,
carpindo a eterna canseira,
de largar as cargas
nos portais das vendas
das estradas largas;
- de sacar peludos nas
querências quietas
nos rincões dispersos;
pobre e torturada, como
alguns poetas,
na angustiosa lida
de deixar versos
nos portais da vida.
E a velha carcaça teatina,
rinchando as massas vai
cumprindo a sina,
rumo das Missões.
Arrinconado na sanga,
agora o velho paisano
solta boi no pouso certo.
Não há rumor pelo plaino,
nem o soluço do vento
acorda a alma das coisas
nesta hora de nós mesmos...
Presumo que só desperto,
se encontra meu pensamento.
Mas o téo-téo corneteiro
se alvorotou na restinga
rompendo no seu téo... téo...
E o fogão do carreteiro,
na escuridão que se expande,
parece uma estrela grande
entreverada com as outras
que fogoneiam no céu.