A Tristeza
Juca Ruivo (José da Silva Leal Filho)
Convenceram o crioulo,
de que nas noites serenas,
das coisas, a voz apenas
é que se ouve no plano,
nada havendo sobre-humano...
Morreu assim a poesia
que nas histórias havia
sobre as luzes siderais;
e hoje não brilham mais,
nas noites de calmaria.
Não ganha mais o seu fumo,
o Negro do Pastoreio;
o Boitatá, nem receio
causa mais ao piazote
que alta noite cruza a trote
por alguma encruzilhada.
A boicininga esfomeada,
finou-se nos atoleiros
e os Santos Padroeiros,
já cambiaram de morada.
Na crista dos Cerros Bravos,
não luz mais a Mãe do Ouro;
nalguma cova de touro,
o lobisomen entocou;
o Caapora afundou
no perau dum taimbé
donde o velho M’bororé
com Angorá já está.
A formosa Teiniguá,
as salamancas fechou.
A alma dos descampados,
soluça pelas quebradas;
não causam medo as canhadas,
nem assustam as taperas...
Gente estranha, doutras
terras,
trouxe a civilização;
nossa velha Tradição
Vai-se aos poucos acabando,
enquanto a vamos chorando,
reunidos no fogão.