A E S P E R A N Ç A
Juca Ruivo
Quando chegar esse tempo,
pelos galpões das estâncias,
se ouvirão as ressonâncias
das cordeonas melodiosas.
Nas ramadas silenciosas,
reviverão as porfias.
No balcão das pulperias,
haverá canha bem pura
pra afogar as amarguras
e saudar as alegrias!
O guasca terá de novo
seus redomões e tropilhas.
Pelo topo das coxilhas
o gado pastará em pontas.
Ninguém mais andará às tontas
fugindo da autoridade.
E em vez da calamidade
desta vida de carancho,
cada um terá seu rancho
e plata e carne à vontade!
E quando o poncho dos pobres
luzir pelo céu bendito,
por todo o pampa infinito
haverá frescas ramadas,
pra se dormir as sesteadas
nos mormaços de verão.
Haverá em cada galpão,
um fogo reconfortante,
pra aquentar o pobre andante
tocado pelo Minuano.
Enfim, o livre paisano,
será rei do seu rincão!
E correrão nos domingos,
as califórnias antigas.
As chinas que nem formigas,
arrodearão as carpetas.
Os milicianos paletas,
não bulirão com ninguém;
o guasca terá também
seu direito respeitado
que a Lei cortará num lado
e não bombeará em quem!
E do trabalho nas fainas,
o crioulo todo entregue,
viverá contente, alegre,
entre morenas quartudas.
Haverá tropas morrudas,
em que ganhe o suficiente
pra se vestir como gente
e dar regalos à china,
e nalguma sina-sina,
dar a casca, finalmente.
Contudo, embora nos reste,
baixo a cinza, indiferente,
alguma brasa inda quente
do entusiasmo passado,
o progresso respeitado,
não matará essa ilusão...
E ao toque de oração,
se ouvirão vozes no campo,
brilharão luzes no escampo
e viverá a TRADIÇÃO!