SE MARX FOSSE PEÃO

Juarez Machado de Farias

     

      "...A estância se acordou em dia de camperiada

      Chiando pelas cambonas, prá se iniciar a mateada

      De repente um peão barbudo, atando a segunda espora

      Abriu a boca sizuda, pondo "o zóio" campo afora

      E falou pros companheiros de mesmo rumo e ofício

      Numa tal de mais valia,

 

      Falando em tom de comício, contando um pouco de história...

      A peonada leva tropa prá morrer no matadouro

      Esfola a bunda nos "basco", o sol velho queima o couro

      Mas o patrão barrigudo é que embolsa todo o ouro

 

      Se madruga todo o dia prá laçar e curar bicheira

      Se afunda o garrão no barro, com essas vacas da mangueira

      E co que nos sobra de tudo?

      Só hemorróida e frieira

 

      ... Ainda fazem rodeio, em nome da Tradição

      Os boi com a língua de fora prá alegria do patrão

      O que era duro ofício se transforma em diversão

 

      E tem mais: A propriedade deve ser de quem trabalha

      Quem sustenta a casa grande são nossos ranchos de palha

      Se a peonada joga truco, o patrão é que embaralha

 

      ... e a estância continuou, no mesmo tranco afinal

      Terêncio jogando laço, Nestor montando o bagual

      E o patrão com a guaiaca forrada dos capital.