PAMPEANA GOTA DE ORVALHO

Juarez Machado de Farias

 


O melhor de mim

está no teu olhar.

Por isso, não me perco

dos teus olhos...

 

Vermelho verbo - poente -

mora e traceja nos lábios

a frase que eu não achava

no manancial das palavras.

 

Esguia noite sem lua

trilhando as horas desertas

que meu peito desaperta

- te entregando o coração!...

Ofertório de prazeres

que os vaga-lumes acendem

e os grilos erguem violinos

- me transformando em canção!

 

Pampeana gota de orvalho

- refugada de algum pranto

que manou da linda estrela

Boieira madrugadora!...

Apeou-se na taipa fria

este murmúrio da alma

que o condão do amor desenha

- com paiência encantadora!

 

Os dedos em mãos de nuvem

e esta brisa cantadeira

emponchando a alma atenta

- invernada de sossego!...

O rio fala nos ouvidos,

os arames cantam coplas...

Tudo é linda consonância

- unindo a noite ao pelego!

 

O guri tange pandorgas

- alvança o mundo de azul!

As coisas renascem outras

nos botões do encantamento.

A tapera está sorrindo,

dialogando co'a figueira

histórias de sol e poeira

e folhas cheias de vento...

 

A estrada se torna rumo,

a sanga é farta cambona...

Ilusão arando os olhos,

quando a guaiaca ressona

- desarmada - sem xerenga,

sem valentias, nem moedas,

porque me basta o milagre

da água vertendo em pedras!

 

Enfrenei o meu tobiano

pousando à sombra da frente.

Meu coração de torena

percebeu lírios brotando,

o milho depois da chuva

erguendo os altos pendões

- se abrindo a porteira grande

pr'o mundo das amplidões!

 

Fico volteando carinhos

- na simbiose deste amor.

O segredo nos peçuelos

se avoluma de surpresas...

- "Quem sabe um pano de chita?

Que as flores também se vestem

co'as cores que Deus empresta,

pra serem flores bonitas."

 

E eu te vejo costurando

os lírios que a noite inventa,

agilizando as esperas

murmurando lindos versos

no idioma do silêncio.

Não me perco dos teus olhos

- porque me espantam acenos

e os tristes pendões da ausência.