O SALMO DO CARDO TRISTE
Juarez Machado de Farias
-Lindo enxergar-te, Figueira!
Eterna guardiã dos campos,
silenciosa alma campeira...
venho acender-te este Poema,
candieiro pobre que
levo
verdeando os olhos
cansados,
invejando esse ar longevo...
Sou este espinho rasteiro,
temeroso das enxadas,
covarde planta esmirrada
que não dá fruto nem nada
somente uma flor calada,
estéril no próprio instinto.
quisera viver ao longe,
dando sombra em meu caminho...
Figueira, senhora guapa,
ergo os olhos, ergo os braços
na direção do teu mapa
apontando rumo ao céu
sou este cardo, este amargo,
vivente guapeando ao largo,
feito um courito arruinado
sonhando virar sovéu.
A casa branca que adornas
é uma estrela escancarada
ao sabor da estância velha
em permanente alvorada.
Figueira firme e serena,
feito um rosto de morena
puxando os olhos do peão,
dando sede ao coração...
Sou este pobre espinheiro
cansado em plantar-me aflito,
fisgando ao alto infinito
as ilusões de uma estrela
e dar de beber aos olhos
este sereno encantado,
que tanto as árvores grandes
conhecem por vez primeira...
-Livrai-me, Deus, da coivara!
Quero viver verde a fora,
mesmo anão, xucro e caipora
(que ninguém me põe
apreço)...
Dona figueira, a senhora
enxerga um cardo que chora
-pois não pedi cada espora,
que uma a uma embrabeço...
Quisera, sim, ser mais forte,
cara a cara o vento Norte,
cara a cara a lua cheia!
quisera sim, ser figueira
e rondar, rondar, sem sono
a imensidão destes rumos
-e rir dos cardos reiúnos
que não tem alma e entono....
Longe...uma aguada cintila.
Perto- um grilo que cochila
no violino que espicha
a monodia tranqüila.
Figueira, eu te vejo, então
sempre tapeado o chapéu-
abrindo os braços ao céu,
esquecer do própriochão!
Tão diferente dos cardos
-amargas flores sem mãos.