O ANDARILHO E A ESTRADA
Juarez Machado de Farias
Raimundo lembrou Drummond,
É nome sonoro e bom
A quem tivesse o profundo
Gosto de virar o mundo,
Andando em vasto caminho.
Não sei se homem sozinho
Mas que fosse viajante,
Tendo o sabor do distante
Preso na língua e no olhar.
Raimundo,
se fosse taura,
Mal o dia abrisse a aura,
Encilharia o tordilho,
Ordenando aos que ficassem
Que não fossem, nem chorassem
Impedindo o seu destino
De Raimundo e andarilho.
Diria: “me
chamo trilho,
Nasci talhado pros ventos,
O mundo está no meu nome,
Tenho fome de caminhos.
Parado, não sinto o vinho,
Parece que nada passa.
Quero a roda que não cessa
Feito o dia que começa,
Quero dizer a que vim,
Sou Raimundo e vejo o mundo
Inscrito
dentro de mim.”
Raimundo, então, sumiria,
Seria um ponto na estrada
E uma lágrima prateada
Sobre os olhos da família.
Seria na mesa grande
Uma cadeira vazia,
Talher e prato sobrando.
Mas pouco a pouco, Raimundo,
No peito de quem chorara
Seria mágoa sarando.
Afinal, quem tem o mundo
Saltando dentro do nome
Tem a grande, infinda fome,
De trocar céu e pousada.
Quem tem nome de Raimundo,
Nasceu para ser estrada.