BENTO GONÇALVES CHEGANDO NA
CASA DO POVO
Juarez Machado de Farias
Bento Gonçalves chegando na Casa do Povo,
E nada de novo aqui por São
Pedro,
Na rua calçada, em Piratini
Lá vai um guri pedalando um
brinquedo.
O charque gaúcho vai dando
prejuízo,
O preço da soja caindo de
novo.
O negro charqueando, depois
guerreando,
Não tem inflação e nem pão
para o povo.
Lá vem Garibaldi, saiu do
Jornal.
Lá vem Seu Venâncio, saiu do
Cinema.
A História transborda de
nossas cabeças,
E a nossa memória é pequena.
Fundou-se a Capela por mãos
açorianas.
-Quem lembra o que á
“bandeira do divino”?
-Quem sabe onde fica a Fonte
dos Pinheiros?
-Pergunte ao adulto, pergunte
ao menino.
Rio Grande República em
Piratini,
Aqui houve um Teatro Sete de
Abril.
Agora, um palácio ganhou nosso
nome,
E quem nos conhece perante o
Brasil?
O sol matinal bate na
Rodoviária,
E tropas desfilam com Neto na
frente.
Na televisão, não há
Revolução;
É outra eleição pra (não) ter
presidente.
Há marcas de cascos na rua do Banco.
Um táxi desce em frente ao
Museu.
O
alto-falantes de um carro anuncia;
“Convite pra enterro...” (A Memória morrei...)
As pedras do Fórum estão
despencando,
A cara do “O Povo”
amarelecida...
Já não há mais Fórum – e as
pedras avisam;
“Voltamos à vila. A causa é
perdida.”
Dom Pedro II, Brasil
imperial:
O garrão
nacional está em guerra.
Morreu gente peleando a cavalo.
Morre a pé o gaúcho sem
terra.