APENAS
UM PIRILAMPO
Juarez Machado de Farias
O
Campo nos olhos xucros
a
demudar em tratores
perdeu
a tinta das flores
e
aquele encanto no truco
a
empeçar carreirada
com
bailes de cola-atada
e
faiscar de trabuco!...
Apenas
um pirilampo
a
rastrear noite escura
vendo
aberta a sangradura
da
carne virgem do campo...
Acompanhando
um arado
que
seguiu-se acolherado
a
uma junta-desencanto!
O
sonho nos olhos guaxos
a
demudar em seu rumo
com
novas marcas de fumo
a
branquear outros espaços...
No
beiral dos corredores
o
campo vazio das flores
manda
embora os velhos braços!...
Apenas
um pirilampo
ficou
nos olhos da china
que
apagou a lamparina
e
se virou para o canto
sem
compreender a maldade
que
transferiu pra cidade
o
ganha-pão e o pranto!...
Ergueu-se
num caminhão
a
dor da quinquilharia
enquanto
a estrada se abria
no
rumo doutro rincão...
Apenas
um pirilampo
sentiu
a voz de seus ranchos,
no
limiar da escuridão!...
Com
aquela correria
de
se empilhar cacarecos
deixaram
alguns bonecos
daquela
infância guria...
sem
se falar na chupeta
que
a filha da Marieta
chorou
o resto do dia!...
Apenas
um pirilampo
rondou
o lugar da ausência.
Cresceu
o cheiro da essência
dos
poejos e maçanilhas...
o
vazio da soledade
deixou
além da saudade
mais
lonjura entre as famílias!...
De
longe em longe uma casa
a
espreitar na planura
a
estranha monocultura
da
soja pedindo vaza...
chegaram
os italianos
e
se fizeram hermanos...
mesmo
pito e mesma brasa!...
Apenas
um pirilampo
acorda
as noites do sul
que
as luas do céu azul
se
perderam dos meus olhos...
porque
eu não fecho as janelas
pros
campeiros das favelas
pisando
espinhos de molhos!...
Aqui,
Senhor Deputado,
eu
le mostro o que se foi:
um
berro amargo de boi
e
um lavrador assoleado
que
se tangeu verga afora
pra
ser marcado de espora,
corrido
pelo alambrado!...
Aqui,
le mostro a ferida
de
uma terra silenciosa
que
a cordeona manhosa
cantou
na noite comprida...
no
corredor de um aceno
perdeu-se
um filho pequeno
co’a
fome rondando a vida!...
Apenas
um pirilampo
ficou
na minha esperança:
é a
luz de uma criança
que
brincava no quintal
reculutando
na infância
as
ilusões de uma estância
sem
ranchinhos no beiral!...
O
campo nos olhos meus
desnudou-se
pelo progresso.
Mas
eu só quero o regresso
de
um tempo de gineceus...
pra
chimarrear novo dia
e esquecer
a mão vazia...
que
só me trouxe um adeus!...