SINOS DOS SETE POVOS

José João Sampaio

 

Quando me acho solito orelhando as madrugadas

Vejo a ampulheta do tempo da força do capi’i

E ouço os ventos silvarem nos peraus e nas quebradas

Trazendo as vozes dos sinos do Império Guarani.

 

E o meu pranto antigo que ninguém acalma

Me corre nas veias... Retumba em tropel

Pois tenho um badalo e um sino na alma

Que bate mais triste que o de São Miguel.

 

Por isso para um missioneiro até os sons mais naturais

Que povoam horas calmas emplumando madrugadas

Tem o bronze empadilhado das torres das catedrais,

E as plegárias ameríndias esquecidas e olvidadas...

 

Assim me vou noite adentro...

Solitários guitarreiros

Se arrendam nas cordas...Espareiam sentidos

Os sons que me chegam no vento pampeiro:

Negaças de tigres... Bárbaros rugidos!

 

Quem sabe a magia arisca desta terra colorada

Tingiu de plasma escarlate este meu estro guerreiro

E se muitos erguem bandeiras na arte asertanejada

Eu conservo a limpidez do meu sino missioneiro.

 

Pois canto e rebroto como um vegetal

E se já fui madeira hoje sou m’baracá

Que guarda no bojo ninhos de zorzal

E gorgeios da sanga com encanto avá

 

E o meu pranto antigo que ninguém acalma

Me corre nas veias... Retumba em tropel

Pois tenho um badalo e um sino na alma

Que bate mais triste que São Miguel.