PATAS DE CAVALO

José Luis Flores Moró

 

Patas e patas de cavalo!

Que o trecho é vago pra quem não tem rumo

E a hora é longa pra quem não tem pressa!

 

Algumas mechas das melenas longas

E as coplas tristes do assoviar melódico

Ainda insistem em ficar pra trás!

 

Troteando absorto...

Plantando marco e vastidões de estrada

Nos infinitos que marquei pra mim,

Tomando posse de um “um mundão sem fim”

Na andarenga sina de um andar-a-esmo,

Campeando o mundo que sonhei um dia,

Mesmo sabendo que tudo era utopia

E que apenas fugia de mim mesmo!

 

Patas e patas de cavalo!

Que a poeira intensa dessa minha fuga

Embacia meus olhos que, parecem, choram

Todas as águas turvas do Uruguai!

 

Quem ficou pra trás? 

Nem mais me lembro!

Ou, talvez, nem queira me lembrar,

Pois ao fugir destruí meus palcos

E as personagens que tive de encenar!

 

Na garupa do zaino...

As fantasias todas que montei

Nos patamares da minha ideologia

E que se transformaram com o passar dos dias

Nesse mundo fictício que inventei!

 

Por isso a cavalgada desnorteada

E a impressão de que não levo nada

E de que nada também lá deixei!

 

Patas e patas de cavalo!

Mais um haragano que boleia a perna

Nos infinitos da saudade terna,

Que chora a falta desse chão divino!

Um outro maula que levanta o ninho

Na sina maleva de morrer sozinho

Pelo “me gusta” de um trotear teatino!

 

Uma mala velha de garupa

Leva prenúncios de uma viagem longa

E um bordoneio guapo de milonga

Embala o vento numa prece amiga!

Um pingo d água no olhar distante

Molha os rumos desse retirante

Como querendo ainda dar-me vida!

 

Salivando pelo céu da boca

O gosto verde por um mate amargo

E um atavismo, quase religioso,

À terra antiga que fez pátria em mim!

A poesia... Ah!  Essa terna poesia!

A única verdade que sobrou,

Essa sim vai comigo...  Não ficou

Para mentir que eu fui poeta um dia!

 

No olhar do pingo uma jornada incerta

E um troteado manso nas patadas tristes

Como quem sabe que está errando o rumo

E que o pasto verde já ficou pra trás!

 

Na ponta de um mastro imaginário

Duas bandeiras velhas... Tricolores

Representando o amor por essas cores

Da equipe e do Estado que deixei!

E o pó cinzento que pra trás retorna

Dá a impressão que, aos poucos, se transforma

Em todos os troféus que eu conquistei!

 

Patas e patas de cavalo!

Que o choro do Uruguai não se ouve mais

E o treval dos campos virou cafezal

Nas granjas-latifúndios dos meus olhos!

 

Mas... Nesse meu olhar sombrio do novo mundo,

Que eu mantenha a mesma identidade!

E que, embora os infortúnios da saudade,

Eu não me torne, jamais, um despilchado!

E que nesse êxodo involuntário

Eu seja, apenas, um gaúcho visionário,

Desses que fazem um Rio Grande em cada estado!

 

Patas e patas de cavalo!